sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Lectio Divina











(O Concílio Vaticano II, em seu decreto Dei Verbum 25, ratificou e promoveu com todo o peso de sua autoridade, a restauração da "Lectio Divina", que teve um período de esquecimento por vários séculos na Igreja. O Concílio exorta igualmente, com ardor e insistência, a todos os fiéis cristãos, especialmente aos religiosos, que, pela frequente leitura das divinas Escrituras, alcancem esse bem supremo: o conhecimento de Jesus Cristo (Fl 3,8). Porquanto "ignorar as Escrituras é ignorar Cristo" (São Jerônimo, Comm. in Is., prol.).)
"Lectio Divina" - (Bíblia Sagrada, - basicamente os Salmos e Evangelhos - é a mais indicada para a Lectio Divina).

1. Tome o Texto Sagrado com reverência e invoque o Espírito Santo. Pode-se escolher as leituras da Missa do dia, se quiser. Nas Livrarias Vozes e Paulinas existem livrinhos com essas leituras. Leia o Texto, de preferência umas três vezes, devagarinho, saboreando cada palavra. Quando se sentir atraído por determinada palavra, pare, não reflita sobre a palavra, mas mantenha uma posição de Escuta..... Atento ao que o Senhor lhe quiser falar.Não se trata aqui de refletir sobre a Palavra de Deus. Isso poderá ser feito outra hora, com o objetivo de estudá-la, etc.... aqui você se coloca como o Discípulo atento à Palavra do Senhor.
Responda então à essa Palavra com Amor, agradecimento, etc.... O Espírito Santo mesmo lhe guiará nessa oração.... Muitas vezes é aquilo que estamos precisando ouvir mesmo.
2. Por uns 30 minutos pelo menos, escute o Senhor falando com você através do Texto. Responda a essa Fala com amor, no silêncio de seu coração. Quando sentir que não tem mais nada a dizer, fique uns instantes em adoração silenciosa. Termine com um Pai Nosso ou Ave Maria.
Pratique uma vez por dia, se possível. Em breve você verá maravilhas em sua vida!
Ao final, agradeça a Ele pelas luzes e graças recebidas.

"Buscai ao Senhor já que Ele se deixa encontrar;invocai-o, já que está perto."(Is. 55,6)
Faze isto e viverás!


Clareando mais um pouco:
Procure na Leitura e você encontrará na Meditação. Bata à porta da Oração e se lhe abrirá na Contemplação."Pois crescemos no amor de Deus como crescemos em qualquer relacionamento íntimo de amor.... através de um contínuo conhecer, confiar, desejar, entregando nossas defesas, medos e até ao nosso próprio eu, ao Bem-amado. Este contínuo, corresponde aos níveis mais profundos da oração que se incluem no processo da Lectio com suas quatro fases progressivas originando-se na reflexão sobre a palavra escrita, fluindo para a oração espontânea e finalmente quedando-se frente a uma silenciosa presença de Deus no amor.
A Lectio Divina é um "processo orgânico" que ocorre num período de tempo, tanto no microcosmo de um simples período de oração, quanto no macrocosmo de de uma vida inteira de engajamento com Deus, na oração, vivida num estado de fidelidade a esse amor.(Thelma Hall, r.c., "Too Deep for Words") traduzido da lista Lectio Divina, com permissão.



Quando começamos nossa prática da Lectio, juntamente com a Oração Centrante, poderíamos considerar separar uns 50 minutos durante o dia para combinar as duas práticas, deixando um segundo período de OC para mais tarde, ou mais cedo, dependendo de sua escolha... Seria bom lembrar que aqui estamos estabelecendo nossas prioridades e estas podem ser vistas como contra-cultural, o que pode ser um desafio! Um período de 20 minutos de Oração Centrante, desembocando na Lectio Divina é um modelo que pode funcionar bem para uns. Outro modelo para aqueles que sentem um apelo para a LD apenas, seria separar uns 30 minutos cada dia, começando com um período de silêncio de pelo menos 3-5 minutos.Para marcarmos o tempo que destinamos à nossa oração, bom será se providenciarmos um "timer" ou alguma outra forma de sermos alertados para o término. Gravar uma música suave, seguidos de vinte minutos de silêncio, mais outra música suave para nos ajudar a sair suavemente desse colóquio com Deus, muito nos ajudará.
Aqui vão algumas diretrizes para a prática e lembre-se são apenas diretrizes.... cada um de nós vai ter que descobrir o que funciona melhor para si e estar atento às próprias resistências.
1. O Vestíbulo
Ajuda muito se antes da prática você encontrar/preparar um lugar tranquilo, um lugar "sagrado" onde será menos provável que ocorram distrações. Talvez você possa preparar um pequeno altar, uma lâmpada ou vela acesa, uma lembrança simbólica da luz de Cristo dentro de nós e entre nós. Sua Bíblia Sagrada ou texto sagrado que você escolheu bem próximos, de modo que tudo esteja facilmente à mão.
2. Música
Se você deseja música, isto pode ser feito antes da Oração. É recomendável que a Lectio Divina seja experimentada no silêncio. Desse modo se evita ser distraído por palavras, melodias e outras emoções que frequentemente ocorrem quando se ouve música. A música litúrgica é um meio maravilhoso para nos elevar a Deus, mas nesse momento receptivo ela pode se tornar uma distração para aquilo que o Bem-amado possa desejar comunicar a nós em profundidade. Então use seu bom senso e julgamento nisso também.
3. Aconselho a que se permaneça com o texto escolhido para o dia. Isto nos ajuda a focalizar e crescer na prática de estarmos presentes a um limite textual definido no momento. No futuro se mostrará mais útil que ficar pulando de um texto para outro.
4. Quando aparentemente nada lhe disser alguma coisa em termos de inspiração divina e consolação, quando tudo isso lhe parecer aborrecido, lembre-se que o "compromisso" faz parte da prática e permanecer com a prática nesse momento sobrepuja os "bons e prazeirosos" sentimentos que tanto desejamos. Haverá tempos de aridez e possivelmente de confitos interiores à medida que nos aprofundamos nessa prática da Lectio Divina. O Espírito de Deus nos desafia do mesmo modo que nos conforta. Tempos de aridez são necessários e nos ajudam a nos mover no sentido de níveis mais profundos de maturidade e profundidade.Rezemos uns pelos outros, pela nossa completude no Senhor, e por paciência com nossa fragilidade humana.
(Sharon K. Cooper - Lectio Divina List owner)traduzido com permissão


São João da Cruz parafraseando versículo do Evangelho de Lucas (11:9), nos dá um esboço dos quatro passos da Lectio Divina:
Procure na Leitura e você encontrará na Meditação. Bata à porta da Oração e se lhe abrirá na Contemplação.
... A experiência desse movimento não é programada ou uma progressão automática 1-2-3-4....A Oração é sempre uma graça, um dom. Lectio é uma tentativa de não fabricá-la mas de nos capacitar a responder a esse dom desde o primeiro "convite" e a nos dispormos ao seu desenvolvimento. Não podemos trazer nenhum roteiro pessoal para o processo.
1. Leitura: Lectio
Aquiete o corpo e a mente. Escolha um texto... preferivelmente curto.... leia-o lentamente, ouvindo interiormente, com toda atenção ao mesmo. Personalize as palavras como se Deus as dissesse para você, agora.
2. Meditação.
Responda, como se recebesse a leitura num nível mais profundo. Movimente-se nesse texto na fé, como se morasse nele, com a imaginação e o intelecto. Deixe o texto agir em você.
3. Oração
Agora não se trata de "fazer algo" mas acontece um movimento espontâneo do coração em resposta ao Espírito que conduz. Na oração , o coração assume o controle, sente saudades e clama por Deus.
4. Contemplação
Nas três outras fases a atividade foi um fator dominante. Ao nos movermos mais profundamente na relação com Deus, Deus assume o controle mais e mais, ao fechar nossas faculdades naturais da razão e imaginação. Experimentamos uma espécie de secura da devoção e do sentimento, uma inabilidade de meditar como antes. Somos conduzidos a uma oração solitária, atenta e amorosa mas obscura, como uma "atenção passiva".
Acolha, sem colocar nenhum obstáculo ao movimento do Espírito. Siga a atração para o silêncio interior e permaneça em atenção amorosa, deixando-se conduzir a essa "escuridão" do amor de Deus. Contemplação é uma nova terra onde tudo antes natural para nós parece ter se virado de cabeça para baixo. Aprendemos uma nova língua..... silêncio.... e uma nova maneira de ser.... não fazer, mas simplesmente ser.... e compreender a aparente ausência de Deus como Presença.(Adaptação de Thelma Halll, r.c.)






Salmo 118, (parte) do livro "Psalms for Praying" de Nan C. Merryll, ed. Continuum, New York.
(tradução livre por Jandira Pimentel)
"Entrego-me em tuas mãos,que eu viva inteiramente por tua Palavra.
Abra os olhos de meu coração,
que eu veja a benção maravilhosada criação.
Sou um peregrino na terra;
que eu me conheça tambem como umser espiritual!
Minha vida se consome com um desejo intenso de ser abençoada e sustentada por Ti,
Oh Divino Amante!....
Que eu me torne oca como a flauta,
para que possas tocar Tua melo dia através de mim.
Pois desejo sintonizar-me
com a grandecanção do Cosmo,
conhecer a canção do louvor interior!
Que eu possa ouvir a Divina Melodia interna e dar a luz uma estrela dançante....
Tuas mãos e teu amor criaram-me e moldaram-me;dai-me a compreensão para que eupossa viver totalmente em Ti.
Aqueles que vivem com medo e na escuridão,verão como transformaste minha vida.
Eles se alegrarão e deixarão seuscaminhos vazios;
eles encontrarão esperança em tua Palavra.
Que eu sempre dê boas vindas ao Amor e à certeza e ofereça estes dons aqueles que choram e vivem na dúvida.
Que tua misericórdia e compaixãolavem-me...e assegurem-me um coração generoso.
Sim, tua Palavra é uma lâmpada para meus pése uma luz no meu caminho.
Tu me dás força enquanto desço aosantuário interior,para descobrir a verdade lá oculta,para buscar os tesouros do Espírito....
Que eu não me deixe seduzir pelos valores domundo, que eu caminhe na estrada da completude. Que tua face brilhe sobre teu amigo,enquanto me ensinas o Amor....
Oh amigos, voces que têm medo do Amor,Vocês, que vivem na solidão,
Arrombem as fechaduras da porta de seus corações, respirem profundamente a liberdade e o calor da luz do sol.
Nao perambulem mais nas tempestades daignorância e do medo;
pois as algemasda prisão irão desaparecer, assimque vocês entrarem na nova aurora da Luz!Segurem firmemente as mãos da Fé paraque tenham força através dos vales;
Aprendam a confiar no Um,que é sempre sua companhia e guia.
Nao tenham medo do toque do Amor,do Fogo que consome toda escória
Pois o Amor é o grande transformador,queimando caminhos falsos do passado,enchendo o coração com a Luz.
Despertem para a Presença do Amado que vos habita!...
Oh amigos, abram seus corações ao amor divino!
Sintonizem-se com o Hóspede Divinodentro de seu ser!
Porque quando se conhece a
Fonte do Amor de sua vida,
ela flui através de voce e se irradia para fora;
A Harmonia entra em sua vida,
Vê-se com novos olhos..."**

Maria do Egito Nossa Mãe!


Ditos dos Padres do Deserto
Tradução: Jandira S. Pimentel
Aqueles a quem os Padres do Deserto servem de modelo, encontrarão ajuda no aprofundamento de sua experiência de Deus. Há muitas milhas solitárias que separam o início da corrida até a linha de chegada. Mas é na chegada que os anjos aguardam para nos animar. Também lá, os monges do deserto nos esperam. Nos escritos que deixaram para trás, encontramos a sabedoria que nos auxilia na estrada, aqui e agora. Esta sabedoria sobreviveu através dos séculos, esperando como um oásis no deserto para refrescar a todos aqueles que buscarão a espiritualidade, que tem seu preço. (Dan Nicholas, traduziu: Jandira)
Perguntaram ao Pai Ammonas: "Qual é o caminho estreito e apertado?" (Mt. 7,14). Ele respondeu: O caminho estreito e apertado é este, controlar seus pensamentos e despojar-se de sua própria vontade por amor de Deus. Também isto é o significado da sentença: "Senhor, eis que deixamos tudo e te seguimos." (Mt 19, 27)
Diziam dele que havia como que uma depressão escavada em seu peito, pelas lágrimas que caíram de seus olhos durante toda sua vida, enquanto ele fazia seu trabalho manual. Quando Pai Poemen viu que ele estava morto, disse chorando: "verdadeiramente você é abençoado, Pai Arsenius, pois você chorou por si mesmo nesse mundo! Quem não chora por si mesmo aqui embaixo, chorará eternamente então; por isso é impossível não chorar, voluntariamente ou quando obrigado pelo sofrimento”. (i.e. o sofrimento derradeiro no inferno).
Também era dito dele (Pai Arsenius) que nas noites de sábado, preparando-se para a glória do domingo, ele virava-se de costas para o sol e elevava suas mãos em oração em direção ao céu, até que o sol novamente brilhasse em sua face. Então ele se sentava.
Dizia-se do Pai Ammoes que quando ele ia à igreja, não permitia que seu discípulo caminhasse ao seu lado mas a uma certa distância; e se esse último viesse lhe perguntar sobre seus pensamentos, ele se afastava dele logo após responder-lhe, "é por receio que, após tão edificantes palavras, sobrevenham conversas irrelevantes, que eu não permito que caminhes comigo."
Foi dito de Pai Ammoes, que ele possuía cinqüenta medidas de trigo para seu uso e as colocara para fora, ao sol. Antes que elas estivessem devidamente secas, ele viu algo naquele lugar que lhe pareceu perigoso, então disse aos seus empregados, "vamo-nos embora desse lugar". Porém, eles pareceram aflitos com isso. Vendo seu desalento ele lhes disse, " é por causa dos pães que vocês estão tão tristes? Na verdade, tenho visto monges fugindo, deixando suas celas lavadas e também seus pergaminhos e eles nem fecharam as janelas, mas deixaram-nas abertas.
Pai Abraão disse de um homem de Scete que era um escriba e não comia pão. Um irmão veio a ele para copiar um livro. O velho homem cujo espírito estava absorto em contemplação, escreveu, porém omitindo algumas frases e sem pontuação. O irmão, tomando o livro e desejando pontuá-lo, notou que faltavam palavras. Então disse ao ancião, "Pai, faltam algumas palavras." O ancião disse a ele, "Vá e pratique primeiro o que está escrito, depois volte e eu escreverei o restante."
Havia nas celas um velho homem chamado Apollo. Se aparecia alguém chamando-o para ajudar em alguma tarefa, ele ia alegremente, dizendo, "Vou trabalhar com Cristo hoje, pela salvação de minha alma, pois esta é a recompensa que Ele dá."
Pai Doulas, discípulo de Pai Bessarion disse, "Um dia, quando estávamos caminhando ao longo da praia, eu estava sedento e disse ao Pai Bessarion, "Pai, estou com sede." Ele rezou e disse-me, "Beba um pouco da água do mar." A água estava doce e eu bebi. Cheguei a pegar um pouco numa garrafa de couro, pois tive medo de ficar sedento mais tarde. Vendo isto, o velho homem perguntou-me porque eu estava levando água. Eu disse a ele, "perdoe-me, é por medo de ficar com sede mais tarde." E o ancião disse: "Deus está aqui, Deus está em todo lugar."
Um irmão perguntou ao Pai Poemen desta maneira: "meus pensamentos me atormentam, fazendo com que eu deixe de lado meus pecados e me preocupe com as faltas de meus irmãos." O ancião contou-lhe a seguinte estória sobre Pai Dioscurus (o monge): "na sua cela ele chorava por si mesmo, enquanto seu discípulo se sentava eu outra cela. Quando este último veio ver o ancião perguntou-lhe, "pai, por que choras?" "Estou chorando pelos meus pecados, respondeu-lhe o velho homem. Ao que o discípulo disse, "você não tem nenhum pecado, Pai." O ancião replicou, "É verdade, meu filho, se eu pudesse ver meus pecados, três ou quatro homens não seriam suficientes para chorar por eles."
Isto é o que disse Pai Daniel, o Faranita: "Nosso Pai Arsenius nos contou sobre um habitante de Scetis, de vida digna e fé simples; pela sua ingenuidade, ele foi enganado e disse, "O pão que recebemos não é verdadeiramente o Corpo de Cristo, mas um símbolo. Dois anciãos souberam que ele dissera aquilo, conhecendo seu modo de vida correto acreditaram que ele não falara por malícia, mas por simplicidade. Então, vieram a ele e disseram: "Pai, ouvimos da parte de alguém uma proposição contrária à fé, que disse que o pão que recebemos não é verdadeiramente o corpo de Cristo, mas um símbolo. O ancião disse, "fui eu quem disse isso." Então os outros dois o exortaram dizendo, "não mantenha essa crença, Pai, mas aquela em conformidade com o que a igreja Católica nos deu. Acreditamos, de nossa parte, que o pão por si mesmo é o Corpo de Cristo, como no início, Deus formou o homem à sua imagem, tomando do pó da terra, sem que ninguém possa dizer que ele não é a imagem de Deus, mesmo que não pareça. Do mesmo modo, com o pão do qual ele disse, "este é meu corpo", assim nós cremos que é verdadeiramente o Corpo de Cristo. O ancião disse-lhes, "Enquanto eu não for convencido pela coisa em si, não estarei completamente convicto." Então eles disseram, "Vamos rezar a Deus sobre este mistério por toda a semana e acreditamos que Deus vai nos revelar isto." O ancião ouviu isso com alegria e rezou nessas palavras, "Senhor, vós sabeis que não é por malícia que eu não creio, e, de maneira que eu não erre por ignorância, revele isto a mim, Senhor Jesus Cristo." Os dois homens voltaram a suas celas e rezaram também a Deus, dizendo, "Senhor Jesus Cristo, revele esse mistério a esse homem de modo que ele creia e não perca sua recompensa." Deus ouviu suas preces. Ao final da semana eles vieram à igreja no domingo e se sentaram todos os três no mesmo tapete, o ancião no meio. Em seguida seus olhos se abriram e quando o pão foi colocado na mesa sagrada, aparecia-lhes uma criança pequena, sozinha. E quando o sacerdote estendeu a mão para partir o pão, viram um anjo descer do céu com uma espada e servir o sangue da criança no cálice. Quando o padre partiu o pão em pedacinhos, o anjo também cortou a criança em pedaços. Quando se aproximaram para receber os sagrados elementos o ancião sozinho recebeu um pedaço da carne sangrenta. Vendo isto, ficou com medo e gritou, "Senhor, eu creio que isto é vosso corpo e este cálice vosso sangue." Imediatamente a carne que ele segurava em suas mãos se tornou pão, de acordo com o mistério e ele o tomou dando graças a Deus. Em seguida os dois homens lhe disseram, "Deus conhece a natureza humana e sabe que o homem não pode comer carne crua e é por isso que ele mudou seu corpo em pão e seu sangue em vinho, para aqueles que o recebem na fé. "Em seguida, deram graças a Deus pelo ancião, porque Ele não permitiu que o mesmo perdesse a recompensa pelo seu trabalho. Então, todos três retornaram com alegria para suas celas."
Dizia-se que Pai Helladius passou vinte anos em sua cela, sem sequer elevar os olhos para ver o telhado da Igreja.
Pai Epifânio acrescentou: "Um homem que recebe algo de outro por causa de sua pobreza ou sua necessidade tem aí sua recompensa e porque ele se envergonha, quando ele paga, ele o faz em segredo. Mas o oposto faz Deus; Ele recebe em segredo, mas paga na presença dos anjos, dos arcanjos e dos justos."
Era dito do Pai Agathon que alguns monges vieram procurá-lo, tendo ouvido falar de seu grande discernimento. Desejando ver se ele perdia a paciência disseram-lhe, "você não é aquele do qual dizem ser um grande fornicador e um homem orgulhoso?" "Sim, é verdade", ele respondeu. Eles continuaram, "você não é aquele Agathon que está sempre dizendo bobagens?", "Sou eu". Novamente, ele disseram, "Você não é Agathon, o herético?" Ao que ele replicou, "Eu não sou um herético." Então eles perguntaram-lhe, "diga-nos, porque você aceitou tudo que atiramos sobre você, mas repudiou este último insulto." Ele replicou. "As primeiras acusações tomei para mim, pois é bom para minha alma. Mas heresia é separação de Deus. Vejam, eu nada tenho para ser separado de Deus." A este dito, eles ficaram surpresos pelo seu discernimento e retornaram, edificados.
Pai Evágrio disse, "Retirem-se as tentações e ninguém será salvo."
Um irmão egípcio veio ao Pai Zeno, na Síria, e se acusou diante do ancião sobre suas tentações. Cheio de admiração Zeno disse, "Os egípcios escondem as virtudes que possuem e acusam-se sem cessar de faltas que eles não tem, enquanto que os sírios e gregos fingem ter virtudes que não possuem e escondem as faltas das quais são culpados."
Numa vila, dizia-se que havia um homem que jejuava tanto que era chamado de "o jejuador". Pai Zeno ouviu falar dele e mandou chamá-lo. Ele veio alegremente. Rezaram e se sentaram. O ancião começou a trabalhar em silêncio. Não conseguindo falar com Pai Zeno, o jejuador começou a se aborrecer. Então ele disse a Pai Zeno, "reze por mim, Pai, porque desejo ir." O ancião perguntou, "por que?" O outro retrucou, "porque meu coração está como se estivesse em fogo e eu não sei o que pode ser isso. Pois em verdade, quando eu estava na vila e jejuava até a noite, nada disso me acontecia." O velho homem lhe disse, "na vila você alimentava-se através de seus ouvidos. Mas vá embora e de agora em diante coma pela nona hora e o que quer que faças, faça-o em segredo." Tão logo ele começou a seguir o conselho, o jejuador achou difícil esperar até a nona hora. E aqueles que o conheceram diziam, "o jejuador está possuído pelo diabo." Então ele foi contar isso ao ancião que disse a ele, "este caminho está de acordo com Deus".
Um dia Pai Moses disse ao irmão Zacharias, "diga-me o que devo fazer?" A estas palavras o último jogou-se no chão aos pés do ancião e disse: "você está me perguntando, Pai?" O velho homem disse a ele "Creia-me, Zacharias, meu filho, eu vi o Espírito Santo descer sobre você e desde então sinto-me inclinado a lhe perguntar." Então Zacharias arrancou o gorro de sua cabeça, jogou-o ao chão e pisoteou-o, dizendo, "O homem que não se deixa tratar assim não pode se tornar um monge."
Pai Zeno disse, "se um homem deseja ser ouvido por Deus rapidamente, antes de rezar por qualquer coisa, mesmo por sua própria alma, quando se elevar e estender suas mãos em direção a Deus, deve rezar de todo coração por seus inimigos. Através dessa ação Deus atenderá qualquer coisa que ele pedir."
Pai Gerontius de Petra disse que muitos, tentados pelos prazeres do corpo, cometiam fornicação, não em seus corpos mas em seus espíritos e enquanto preservavam a virgindade do corpo, cometiam a prostituição em suas almas. "então, é bom, meus bem-amados, fazer o que está escrito e cada um guardar seu próprio coração com todo cuidado possível." (Prov. 4,23)
Um dia Pai Arsenius consultou um velho monge egípcio sobre seus próprios pensamentos. Alguém notou e disse a ele, "Abba Arsenius, como é que o senhor com uma educação tão aprimorada em Grego e Latim, pergunta a um camponês sobre seus pensamentos?" Ele replicou, "Realmente aprendi Grego e Latim, mas não sei nem ao menos o alfabeto desse camponês."
Pai Elias, o ministro, disse, "O que pode o pecado onde há penitência? E de que adianta o amor onde há orgulho?"
Pai Isaias disse a aqueles que começavam bem, colocando-se sob a direção dos santos Padres, "como a coloração roxa, a primeira tintura nunca se perde." E "do mesmo modo que galhos jovens são facilmente envergados para trás e curvados, também é com os iniciantes que vivem em submissão."
Pai Isaias também contou que houve uma ceia e os irmãos estavam comendo na igreja e falando uns com os outros, o padre de Pelusia os repreendeu com estas palavras, "Irmãos, aquietem-se. Pois vi um irmão comendo com vocês e bebendo tanto quanto vocês e sua oração subia até a presença de Deus como fogo."
Pai Isaias também disse, "quando Deus deseja apiedar-se de uma alma e ela se rebela, não suportando nada e fazendo sua própria vontade, Ele então permite que ela sofra o que não quer, de modo que volte a procurá-Lo novamente."
Pai Theodore disse: "se você é amigo de alguém que cai na tentação da fornicação, ofereça-lhe sua mão, se puder e tire-o disso. Mas se ele cair na heresia e você não puder persuadi-lo de sair dela, saia de sua companhia rapidamente, para evitar que no caso de você demorar, você também seja jogado nesse poço.
Um irmão veio procurar Pai Theodore e começou a conversar com ele sobre coisas que nunca tinha posto em prática. Então o ancião lhe disse, "você ainda não encontrou um navio nem colocou sua carga a bordo e antes mesmo de ter navegado, já regressou à cidade. Faça seu trabalho primeiro, depois atinja a velocidade que você está fazendo agora."
Pai Theodore de Pherme disse: "o homem que permanece de pé quando se arrepende, não guardou o mandamento."
Um irmão disse a Pai Theodore, "desejo cumprir os mandamentos." O velho homem contou-lhe o que Pai Theonas lhe tinha dito: "eu quero encher meu espírito de Deus." Pegando farinha da padaria fez pães que deu aos pobres que lhe pediram; outros lhe pediram mais e ele lhes deu as cestas, em seguida o manto que usava e então, retornou à sua cela com seu dorso cingido por uma capa. Depois ele voltou ao trabalho dizendo a si mesmo, que ainda não tinha cumprido o mandamento de Deus."
O verdadeiro Pai Theophilo, o arcebispo, veio um dia a Scete. Os irmãos que estavam reunidos disseram a Pai Pambo, "fale algo ao arcebispo, de modo que ele fique edificado." O ancião disse a eles, "se ele não estiver edificado pelo meu silêncio, não ficará edificado pela minha fala."
Foi dito de Pai Thedore, que ele foi feito diácono de Scete e recusou exercer o cargo, tendo fugido para muitos lugares por isso. A cada vez, os anciãos o traziam de volta, dizendo, "não deixe seu diaconato." Pai Theodore disse-lhes, "deixem-me rezar a Deus de modo que Ele me diga, com certeza, se eu devo tomar parte na liturgia." Então rezou a Deus desse modo, "se é Tua vontade que eu aceite essa posição, dá-me a certeza disso." Então lhe apareceu uma coluna de fogo, que ia da terra ao céu e uma voz lhe disse, "se você puder se tornar como essa coluna, então seja um diácono." Ao ouvir isso ele decidiu nunca aceitar o encargo. Quando voltou à igreja os irmãos se inclinaram diante dele, dizendo, "se você não quer ser um diácono, pelo menos segure o cálice." Mas ele recusou, dizendo, "se vocês não me deixarem sozinho, deixarei este lugar." Então o deixaram em paz.
Pai Theodore de Scetis disse, "um pensamento me perturba não me deixa livre; embora não seja capaz de levar-me a agir, ele simplesmente me impede de progredir na virtude; mas um homem vigilante o lançaria fora e se levantaria para rezar."
Pai Theodore dizia, "a privação de alimento mortifica o corpo do monge." Pai Anotherold disse, "as vigílias mortificam ainda mais."
Mãe Teodora disse, "vamos nos esforçar para entrar pela porta estreita. Como as árvores que não enfrentaram as tempestades de inverno e não produzem fruto, assim é conosco; esta vida presente é uma tempestade e é através de muitas tribulações e tentações, que podemos obter a herança no reino dos céus."
A mesma Mãe disse que um mestre deveria ser um estranho ao desejo dominação, vanglória e orgulho; ninguém deveria se capaz de enganá-lo pela adulação, nem cegá-lo com presentes, nem conquistá-lo pelo estômago, nem dominá-lo pelo ódio; mas ele deveria ser paciente, gentil e humilde tanto quanto possível; ele deveria ser testado e sem partidarismo, imbuído de responsabilidade e amor pelas almas.
Ela também disse que nenhuma forma de ascetismo, nem vigílias, nem qualquer tipo de sofrimento são capazes de salvar, mas apenas a verdadeira humildade o pode fazer. Havia um anacoreta que tinha o poder de expulsar demônios; e ele lhes perguntou, "o que os faz irem embora?" "é o jejum?" Eles replicaram, "não comemos nem bebemos." "São as vigílias?" Eles responderam, "nunca dormimos." "É a separação do mundo?" "Vivemos nos desertos." "Qual poder os expulsa então?" Eles disseram, "Nada nos pode vencer, além da humildade." "Vocês vêem como a humildade é vitoriosa sobre os demônios?"
Foi dito de Pai John, o Anão que ele se retirou para viver no deserto de Scete com um ancião de Tebas. Seu Pai, pegando um pedaço seco de madeira plantou-o e disse a ele, "molhe-o todos os dias com uma garrafa de água, até que dê fruto." A água ficava muito distante e ele tinha que sair à noite e retornar pela manhã seguinte. Ao final de três anos a madeira reviveu e deu fruto. Então o ancião pegou alguns frutos e levou-os à igreja, dizendo aos irmãos, "peguem e comam o fruto da obediência."
Dizia-se de Pai John, o Anão, que um dia ele disse ao seu irmão mais velho, "gostaria de ser livre de todos os cuidados, como os anjos, que não trabalham, mas prestam culto a Deus incessantemente." Então, ele retirou seu manto e foi para o deserto. Depois de uma semana ele voltou ao seu irmão. Quando bateu à porta ouviu seu irmão dizer, antes de abrir, "quem é você?" Ele disse, "sou John, seu irmão." Ao que o outro retrucou, "John se tornou um anjo e dessa maneira não mais se encontra entre os homens." O outro pediu para entrar, dizendo, "Sou eu." Contudo, seu irmão não o deixou entrar, mas o deixou lá fora, aflito, até de manhã. Então, abrindo a porta, disse-lhe, "você é um homem e deve novamente trabalhar para poder comer." Então John se prostrou diante dele, dizendo, "perdoe-me."
Um dia, quando ele estava sentado em frente à igreja, os irmãos foram consultá-lo sobre seus pensamentos. Um dos anciãos viu e tornando-se presa do ciúme disse a ele, "John, seu vaso está cheio de veneno." Pai John respondeu-lhe, "Isto é bem verdade, Pai; e você disse isso vendo apenas o lado de fora, mas se fosse capaz de ver o interior também, o que diria, então?"
Alguns irmãos vieram um dia para testá-lo, para ver se ele deixaria seus pensamentos se dissiparem e falasse das coisas desse mundo. Disseram-lhe então, "damos graças a Deus, pois este ano tem chovido muito e as palmeiras puderam beber e suas folhas cresceram e os irmãos encontraram trabalho manual." Pai John disse-lhes, "Então, é quando o Espírito Santo desce aos corações dos homens, eles se renovam e produzem folhas por temor a Deus."
Era dito de Pai John, o Anão, que um dia ele estava tecendo corda para duas cestas, mas sem perceber, ele fez apenas uma, até que chegasse ao teto, pois seu espírito estava absorto em contemplação.
Pai John disse, "sou como um homem sentado debaixo de uma grande árvore, que vê bestas selvagens e serpentes, vindo contra ele em grande número. Quando não pode mais, ele corre e sobe na árvore e se salva. É a mesma coisa comigo; sento-me em minha cela e estou consciente de pensamentos maus vindo contra mim e quando não tenho mais forças contra eles, busco refúgio em Deus pela oração e sou salvo do inimigo."
Pai Poemen disse de Pai John, o Anão, que ele tinha rezado a Deus para que retirasse para longe dele as paixões, de modo que ele ficasse livre de preocupações. Então ele foi contar ao ancião isto; "encontro-me em paz, sem nenhum inimigo". O ancião lhe disse, "vá, implore a Deus que lhe envie as lutas de modo que você recupere a aflição e humildade que você possuía, pois é pela luta que as almas progridem." Então, ele implorou a Deus e quando as batalhas vieram ele não mais rezou que elas fossem afastadas, mas disse, "Senhor, dai-me força para a luta."
Pai John disse, "pusemos a carga leve de um lado, que é a auto-acusação, e nos carregamos com um grande peso que é a auto-justificação."
Ele também disse, "humildade e temor de Deus estão acima de todas as virtudes."
Pai John deu este conselho, "vigiar significa sentar-se na cela e estar sempre presente a Deus. Isto é o que significa o dizer, "eu vigiava e Deus veio até mim."
Um dos Padres disse dele, "quem é esse John, que pela sua humildade tem toda cidade de Scete pendurada no seu dedo mínimo?"
Pai John, o Anão, disse, "havia um homem muito espiritual que vivia uma vida reclusa. Ele era muito considerado na cidade e gozava de grande reputação. Disseram-lhe que um ancião, à beira da morte o chamava para abraçá-lo antes de adormecer. Ele pensou consigo, se eu for com a luz do dia, homens acorrerão atrás de mim, dando-me grande honra e não ficarei em paz com tudo isso. Então, irei à noite, na escuridão e passarei despercebido. Mas vejam só, dois anjos foram enviados por Deus com luzeiros para dar-lhe luz. Então a cidade inteira veio para fora para ver sua glória. Quanto mais ele desejava correr da glória, mais glorificado ele era. Nisso se cumpriu o que está escrito: "aquele que se humilha será exaltado." (Lc 14,11)
Pai John, o Anão, disse, "uma casa não é construída do topo para baixo. Deve-se começar com a fundação para alcançar o topo. Eles lhe disseram, "o que isso significa?" Ele respondeu, "a fundação é nosso próximo, a quem devemos ganhar, e este é o lugar para começar. Pois todos os mandamentos de Cristo dependem desse um."
Pai Poemen disse que Pai John teria dito que os santos são como um grupo de árvores, cada uma produzindo um fruto diferente, mas irrigadas com a mesma fonte. As práticas de um santo diferem das do outro, mas é o mesmo Espírito que trabalha em todos eles.
Pai John disse ao seu irmão, "mesmo que sejamos completamente desprezados aos olhos dos homens, alegremo-nos, pois somos honrados aos olhos de Deus."
O ancião, (Pai John, o Anão), disse, "vocês sabem que o primeiro sopro do demônio sobre Jó, foi através de suas possessões; e aquele viu que não o pôde afligir nem o separar de Deus. Com o segundo sopro, ele tocou sua carne, mas também nisso, o bravo atleta não pecou por palavra alguma que viesse de sua boca. De fato, ele tinha dentro do seu coração aquilo que é de Deus e recorria àquela fonte incessantemente."
Um ancião veio à cela de Pai John e encontrou-o adormecido com um anjo por detrás dele, abanando-o. Vendo isto ele se retirou. Quando Pai John se levantou, ele disse ao seu discípulo, "veio alguém enquanto eu estava dormindo?" Ele retrucou, "sim, um ancião." Então, Pai John soube que esse ancião era seu igual e que ele tinha visto o anjo.
Pai Isidore disse, "quando eu era mais jovem e permanecia em minha cela eu não punha limites à oração; a noite era para mim tempo de oração tanto quanto o dia."
Pai Isidore foi um dia ver Pai Theophilus, arcebispo de Alexandria e quando retornou a Scetis, os irmãos perguntaram a ele, "o que há de novo na cidade?" Mas ele lhes disse, "verdadeiramente irmãos, não vi a face de ninguém, exceto a do arcebispo." Ouvindo isso ficaram muito ansiosos e disseram, "houve algum desastre lá então, Pai?" Ele disse, "Não, de modo algum, mas o pensamento de olhar para quem quer que fosse não me atraiu." A essas palavras eles se encheram de admiração e se fortaleceram em sua intenção de guardarem seus olhos de toda distração."
Pai Isidore de Pelusia disse, "prezem as virtudes e não sejam escravos da glória; pois as primeiras são imortais enquanto que as últimas logo se desvanecem."
Ele também disse, "as alturas da humildade são grandes e também as profundezas da vanglória; aconselho-os a atenderem à primeira e não caírem na segunda."
Pai Lot foi ver Pai Joseph e lhe disse, "Pai, tanto quanto posso, rezo um pouco meu Ofício, jejuo um pouco, rezo, medito, vivo em paz e tanto quanto posso, purifico meus pensamentos. Que mais posso fazer?'" O ancião levantou-se, estendeu suas mãos em direção ao céu. Seus dedos eram como dez lâmpadas de fogo e então disse-lhe, "por que não tornar-se o próprio fogo, então?
Pai James disse, "tal como uma lâmpada ilumina um quarto escuro, o temor de Deus quando penetra o coração de um homem, o ilumina, ensinando-lhe todas as virtudes e mandamentos de Deus."
E acrescentou: "não precisamos apenas de palavras, pois no momento presente existem muitas palavras entre os homens, mas precisamos de atos, pois isto é o necessário e não apenas palavras que não produzem fruto."
Pai John das Celas nos contou esta estória: "havia no Egito uma bela cortesã, muito rica , a quem muitos nobres e poderosos acorriam. Um dia, estando ela perto de uma igreja desejou entrar. O subdiácono, que estava às portas não o permitiu, dizendo, "você não é digna de entrar na casa de Deus, pois está impura." O bispo, ouvindo o barulho de sua discussão veio para fora. Então a cortesã lhe disse, "ele não me deixa entrar na igreja." E o bispo também disse a ela, "você não pode entrar pois você não está pura." Ela ficou tomada de arrependimento e disse a ele, "então, não mais cometerei fornicação." O bispo respondeu-lhe, "se você trouxer suas riquezas aqui, acreditarei que você não mais cometerá fornicação." Ela trouxe toda sua fortuna e o bispo ateando fogo, queimou-a completamente. Então ela entrou na igreja, chorando e dizendo, "se isto aconteceu comigo aqui embaixo, o que sofreria depois, lá em cima?" Então se converteu e se tornou um vaso de eleição.
Pai Isidore, o sacerdote, disse "se você jejua regularmente, não se encha de orgulho, mas se você se vangloria por causa disso, então é melhor que coma carne. É melhor para um homem comer carne do que se inflar com orgulho e gloriar-se de si mesmo.
Conta-se de Pai John, o persa, que quando alguns malfeitores vieram a ele, ele pegou uma bacia e desejou lavar-lhes os pés. Mas eles se encheram de confusão e começaram a fazer penitência.
Da Palestina, Pai Hilarion foi à montanha onde estava Pai Anthony. Pai Antony disse-lhe, "você é bem-vindo, tocha que acorda o dia." Pai Hilarion retrucou, "paz a você, pilar da luz, dando luz ao mundo."
Os santos Padres estavam fazendo previsões sobre as últimas gerações. Eles disseram. "O que fizemos?" Um deles, o grande Pai Ischyrion, replicou, "nós cumprimos os mandamentos de Deus." Os outros replicaram, "e aqueles que vierem depois de nós, o que farão?" Ele disse, "eles lutarão para conseguir a metade do que conseguimos." Então disseram, "e aqueles que virão após estes, o que lhes sucederá?" Ele disse, "OS HOMENS DESSA GERAÇÃO NÃO REALIZARÃO NENHUMA OBRA E A TENTAÇÃO CAIRÁ SOBRE ELES; E AQUELES QUE FOREM ACHADOS DIGNOS, NAQUELE DIA, SERÃO MAIORES ATÉ MESMO DO QUE NÓS E NOSSOS PAIS."
Pai Copres disse, "abençoado aquele que sofre aflições com ação de graças."
Um dia, os habitantes de Scete reuniram-se para discutir Melquisedeck e se esqueceram de convidar Pai Copres. Mais tarde o chamaram e perguntaram-lhe sobre aquele assunto. Batendo em sua boca três vezes, ele disse, "infelizmente, para você, Copres! Pois aquilo que Deus manda, você faz, você foi posto de lado e você deseja aprender algo que não lhe foi requerido saber." Quando ouviram estas palavras, os irmãos fugiram para suas celas.
Perguntaram a Pai Cyrus da Alexandria, sobre a tentação da fornicação e ele replicou, "se vocês não pensarem sobre isso, vocês não têm esperança, pois se vocês não estiverem pensando nisso, estão fazendo isso. Quer dizer, aquele que não luta contra o pecado e resiste a ele em seu espírito vai pecar fisicamente. É bem verdade que aquele que está fornicando não está preocupado pensando nisso.
Alguns dos monges que são chamados Euchites, foram a Enaton para ver Pai Lucius. O ancião perguntou-lhes, "qual é o seu trabalho manual?" Replicaram, "não fazemos trabalho manual, pois como o Apóstolo diz, "rezamos incessantemente". O ancião perguntou-lhes se eles comiam e eles responderam que sim. Então ele lhes disse, "quando vocês estão comendo, quem reza então no seu lugar?" Então perguntou-lhes se eles não dormiam e responderam-lhe que sim. E ele lhes falou, "quando vocês dormem quem reza no seu lugar?" Eles não conseguiram encontrar nenhuma resposta para dar-lhe. Ele lhes disse, "perdoem-me mas vocês não agem como falam. Vou lhes mostrar como, enquanto faço meu trabalho manual rezo sem interrupção. Sento-me com Deus, pondo meu junco de molho e trançando minhas cordas e digo, "Deus, tenha compaixão de mim, de acordo com vossa grande bondade e de acordo com vossa infinita misericórdia, livra-me de meus pecados." Então lhes perguntou se isto não era oração e disseram que sim. Então lhes falou, "Então, quando devo passar o dia todo trabalhando e rezando, ganhando treze moedas de dinheiro, mais ou menos, coloco duas moedas fora da porta e pago minha comida com o resto do dinheiro. Aquele que pega as duas moedas reza para mim quando estou comendo e quando estou dormindo; então, pela graça de Deus, eu cumpro o preceito de orar sem cessar."
Contaram que Pai Macarius, o grande, como está escrito, tornou-se um deus sobre a face da terra, pois, assim como Deus protege o mundo, assim também Pai Macarius cobria as faltas que ele via, como se não as visse; e aquelas que ouvia, como se não as ouvisse.
O anjo quando deu as regras do monasticismo a São Pacômio, disse-lhe: "... Ele declarou que no curso do dia, eles devem fazer doze orações , e ao acender as lâmpadas, doze, e nas vigílias noturnas, doze, e pela nona hora, três. Quando forem comer, ele decretou que um salmo seja cantado antes de cada prece." E Pacômio objetou ao anjo que as orações eram muito poucas...
O mesmo Pai Macarius, quando no Egito, descobriu um homem que possuía uma besta de carga ocupada em saquear as provisões de Macarius. Então ele foi ao ladrão como se fosse um estrangeiro e o ajudou a carregar o animal. Despediu-o com grande paz na alma, dizendo, "não trouxemos nada para este mundo, e não podemos levar nada para fora dele." (1Tim, 6,7). "O Senhor deu e o Senhor tirou; louvado seja o nome do Senhor." (Job, 1,21)
Perguntaram a Pai Macarius, "como devemos rezar?" O ancião disse "não é necessário fazer grandes discursos; é suficiente erguer as mãos e dizer, "Senhor, como desejas e como conheces, tenha piedade." E se o conflito crescer, digam, "Senhor, ajuda!" Ele sabe muito bem o que precisamos e Ele nos mostra sua misericórdia."
Um irmão foi ao Pai Matoes e lhe disse, "como se explica que os monges de Scete fazem mais do que as Escrituras pedem, amando seus inimigos mais do que a si mesmos?" Pai Matoes respondeu-lhes, "Eu por mim, ainda não consegui amar aqueles que me amam, como eu me amo a mim mesmo."
Dizia-se de Pai Silvanus que em Scetis ele tinha um discípulo chamado Mark, cuja obediência era grande. Ele era um escriba. O ancião o amava por causa de sua obediência. Ele tinha outros onze discípulos que ficaram magoados porque ele o amava mais que a eles. Quando ficaram sabendo disso, os mais velhos ficaram sentidos e um dia vieram reprovar-lhe sobre isso. Tomando-os consigo, ele foi bater em cada cela, dizendo, "irmão fulano, venha aqui; preciso de você", mas nenhum deles veio imediatamente. Chegando à cela de Mark, ele bateu e disse, "Mark." Ouvindo a voz do ancião, ele pulou imediatamente e o ancião o mandou ir servir e então disse, "Pai, onde estão os outros irmãos?" Então eles foram à cela de Mark e pegaram seu livro e notaram que ele tinha começado a escrever a letra "Omega" ("w") mas quando ele ouviu o ancião, ele não terminou de escrever. Então os anciãos disseram, "verdadeiramente, Pai, aquele que você ama, nós amamos também e Deus também o ama."
Pai Poemen disse de Pai Nesterius que ele era como a serpente de bronze que Moisés fez para curar o povo; ele possuía toda virtude e sem falar, curava a todos.
Pai Xanthias disse, "o ladrão estava na cruz e ele foi justificado por uma simples palavra; e Judas que era contado no número dos apóstolos perdeu todo seu labor em apenas uma noite e desceu do céu para o inferno. Então, que ninguém se gabe por seus atos bons, pois todos aqueles que confiam em si mesmos, caem."
Pai Poemen disse, "o início do mal é não ouvir."
Syncletica, Mãe do Deserto, disse: "No começo, há luta e muito trabalho para os que se aproximam de Deus. Mas, depois disso, há uma indescritível alegria. É como acender uma fogueira: no início há muita fumaça e seus olhos lacrimejam, mas depois você consegue o resultado desejado. Assim devemos acender o fogo divino em nós mesmos, com lágrimas e esforço."
Da mesma Mãe: "Há muitos que vivem nas montanhas e se comportam como se estivessem na cidade; e eles estão perdendo seu tempo. É possível ser solitário em sua própria mente, mesmo no meio de uma multidão e é possível para um solitário viver na multidão de seus próprios pensamentos."
Fonte:
Material encontrado na Internet

Os Padres do Deserto


Ditos dos Padres do Deserto
Tradução: Jandira S. Pimentel
Aqueles a quem os Padres do Deserto servem de modelo, encontrarão ajuda no aprofundamento de sua experiência de Deus. Há muitas milhas solitárias que separam o início da corrida até a linha de chegada. Mas é na chegada que os anjos aguardam para nos animar. Também lá, os monges do deserto nos esperam. Nos escritos que deixaram para trás, encontramos a sabedoria que nos auxilia na estrada, aqui e agora. Esta sabedoria sobreviveu através dos séculos, esperando como um oásis no deserto para refrescar a todos aqueles que buscarão a espiritualidade, que tem seu preço. (Dan Nicholas, traduziu: Jandira)
Perguntaram ao Pai Ammonas: "Qual é o caminho estreito e apertado?" (Mt. 7,14). Ele respondeu: O caminho estreito e apertado é este, controlar seus pensamentos e despojar-se de sua própria vontade por amor de Deus. Também isto é o significado da sentença: "Senhor, eis que deixamos tudo e te seguimos." (Mt 19, 27)
Diziam dele que havia como que uma depressão escavada em seu peito, pelas lágrimas que caíram de seus olhos durante toda sua vida, enquanto ele fazia seu trabalho manual. Quando Pai Poemen viu que ele estava morto, disse chorando: "verdadeiramente você é abençoado, Pai Arsenius, pois você chorou por si mesmo nesse mundo! Quem não chora por si mesmo aqui embaixo, chorará eternamente então; por isso é impossível não chorar, voluntariamente ou quando obrigado pelo sofrimento”. (i.e. o sofrimento derradeiro no inferno).
Também era dito dele (Pai Arsenius) que nas noites de sábado, preparando-se para a glória do domingo, ele virava-se de costas para o sol e elevava suas mãos em oração em direção ao céu, até que o sol novamente brilhasse em sua face. Então ele se sentava.
Dizia-se do Pai Ammoes que quando ele ia à igreja, não permitia que seu discípulo caminhasse ao seu lado mas a uma certa distância; e se esse último viesse lhe perguntar sobre seus pensamentos, ele se afastava dele logo após responder-lhe, "é por receio que, após tão edificantes palavras, sobrevenham conversas irrelevantes, que eu não permito que caminhes comigo."
Foi dito de Pai Ammoes, que ele possuía cinqüenta medidas de trigo para seu uso e as colocara para fora, ao sol. Antes que elas estivessem devidamente secas, ele viu algo naquele lugar que lhe pareceu perigoso, então disse aos seus empregados, "vamo-nos embora desse lugar". Porém, eles pareceram aflitos com isso. Vendo seu desalento ele lhes disse, " é por causa dos pães que vocês estão tão tristes? Na verdade, tenho visto monges fugindo, deixando suas celas lavadas e também seus pergaminhos e eles nem fecharam as janelas, mas deixaram-nas abertas.
Pai Abraão disse de um homem de Scete que era um escriba e não comia pão. Um irmão veio a ele para copiar um livro. O velho homem cujo espírito estava absorto em contemplação, escreveu, porém omitindo algumas frases e sem pontuação. O irmão, tomando o livro e desejando pontuá-lo, notou que faltavam palavras. Então disse ao ancião, "Pai, faltam algumas palavras." O ancião disse a ele, "Vá e pratique primeiro o que está escrito, depois volte e eu escreverei o restante."
Havia nas celas um velho homem chamado Apollo. Se aparecia alguém chamando-o para ajudar em alguma tarefa, ele ia alegremente, dizendo, "Vou trabalhar com Cristo hoje, pela salvação de minha alma, pois esta é a recompensa que Ele dá."
Pai Doulas, discípulo de Pai Bessarion disse, "Um dia, quando estávamos caminhando ao longo da praia, eu estava sedento e disse ao Pai Bessarion, "Pai, estou com sede." Ele rezou e disse-me, "Beba um pouco da água do mar." A água estava doce e eu bebi. Cheguei a pegar um pouco numa garrafa de couro, pois tive medo de ficar sedento mais tarde. Vendo isto, o velho homem perguntou-me porque eu estava levando água. Eu disse a ele, "perdoe-me, é por medo de ficar com sede mais tarde." E o ancião disse: "Deus está aqui, Deus está em todo lugar."
Um irmão perguntou ao Pai Poemen desta maneira: "meus pensamentos me atormentam, fazendo com que eu deixe de lado meus pecados e me preocupe com as faltas de meus irmãos." O ancião contou-lhe a seguinte estória sobre Pai Dioscurus (o monge): "na sua cela ele chorava por si mesmo, enquanto seu discípulo se sentava eu outra cela. Quando este último veio ver o ancião perguntou-lhe, "pai, por que choras?" "Estou chorando pelos meus pecados, respondeu-lhe o velho homem. Ao que o discípulo disse, "você não tem nenhum pecado, Pai." O ancião replicou, "É verdade, meu filho, se eu pudesse ver meus pecados, três ou quatro homens não seriam suficientes para chorar por eles."
Isto é o que disse Pai Daniel, o Faranita: "Nosso Pai Arsenius nos contou sobre um habitante de Scetis, de vida digna e fé simples; pela sua ingenuidade, ele foi enganado e disse, "O pão que recebemos não é verdadeiramente o Corpo de Cristo, mas um símbolo. Dois anciãos souberam que ele dissera aquilo, conhecendo seu modo de vida correto acreditaram que ele não falara por malícia, mas por simplicidade. Então, vieram a ele e disseram: "Pai, ouvimos da parte de alguém uma proposição contrária à fé, que disse que o pão que recebemos não é verdadeiramente o corpo de Cristo, mas um símbolo. O ancião disse, "fui eu quem disse isso." Então os outros dois o exortaram dizendo, "não mantenha essa crença, Pai, mas aquela em conformidade com o que a igreja Católica nos deu. Acreditamos, de nossa parte, que o pão por si mesmo é o Corpo de Cristo, como no início, Deus formou o homem à sua imagem, tomando do pó da terra, sem que ninguém possa dizer que ele não é a imagem de Deus, mesmo que não pareça. Do mesmo modo, com o pão do qual ele disse, "este é meu corpo", assim nós cremos que é verdadeiramente o Corpo de Cristo. O ancião disse-lhes, "Enquanto eu não for convencido pela coisa em si, não estarei completamente convicto." Então eles disseram, "Vamos rezar a Deus sobre este mistério por toda a semana e acreditamos que Deus vai nos revelar isto." O ancião ouviu isso com alegria e rezou nessas palavras, "Senhor, vós sabeis que não é por malícia que eu não creio, e, de maneira que eu não erre por ignorância, revele isto a mim, Senhor Jesus Cristo." Os dois homens voltaram a suas celas e rezaram também a Deus, dizendo, "Senhor Jesus Cristo, revele esse mistério a esse homem de modo que ele creia e não perca sua recompensa." Deus ouviu suas preces. Ao final da semana eles vieram à igreja no domingo e se sentaram todos os três no mesmo tapete, o ancião no meio. Em seguida seus olhos se abriram e quando o pão foi colocado na mesa sagrada, aparecia-lhes uma criança pequena, sozinha. E quando o sacerdote estendeu a mão para partir o pão, viram um anjo descer do céu com uma espada e servir o sangue da criança no cálice. Quando o padre partiu o pão em pedacinhos, o anjo também cortou a criança em pedaços. Quando se aproximaram para receber os sagrados elementos o ancião sozinho recebeu um pedaço da carne sangrenta. Vendo isto, ficou com medo e gritou, "Senhor, eu creio que isto é vosso corpo e este cálice vosso sangue." Imediatamente a carne que ele segurava em suas mãos se tornou pão, de acordo com o mistério e ele o tomou dando graças a Deus. Em seguida os dois homens lhe disseram, "Deus conhece a natureza humana e sabe que o homem não pode comer carne crua e é por isso que ele mudou seu corpo em pão e seu sangue em vinho, para aqueles que o recebem na fé. "Em seguida, deram graças a Deus pelo ancião, porque Ele não permitiu que o mesmo perdesse a recompensa pelo seu trabalho. Então, todos três retornaram com alegria para suas celas."
Dizia-se que Pai Helladius passou vinte anos em sua cela, sem sequer elevar os olhos para ver o telhado da Igreja.
Pai Epifânio acrescentou: "Um homem que recebe algo de outro por causa de sua pobreza ou sua necessidade tem aí sua recompensa e porque ele se envergonha, quando ele paga, ele o faz em segredo. Mas o oposto faz Deus; Ele recebe em segredo, mas paga na presença dos anjos, dos arcanjos e dos justos."
Era dito do Pai Agathon que alguns monges vieram procurá-lo, tendo ouvido falar de seu grande discernimento. Desejando ver se ele perdia a paciência disseram-lhe, "você não é aquele do qual dizem ser um grande fornicador e um homem orgulhoso?" "Sim, é verdade", ele respondeu. Eles continuaram, "você não é aquele Agathon que está sempre dizendo bobagens?", "Sou eu". Novamente, ele disseram, "Você não é Agathon, o herético?" Ao que ele replicou, "Eu não sou um herético." Então eles perguntaram-lhe, "diga-nos, porque você aceitou tudo que atiramos sobre você, mas repudiou este último insulto." Ele replicou. "As primeiras acusações tomei para mim, pois é bom para minha alma. Mas heresia é separação de Deus. Vejam, eu nada tenho para ser separado de Deus." A este dito, eles ficaram surpresos pelo seu discernimento e retornaram, edificados.
Pai Evágrio disse, "Retirem-se as tentações e ninguém será salvo."
Um irmão egípcio veio ao Pai Zeno, na Síria, e se acusou diante do ancião sobre suas tentações. Cheio de admiração Zeno disse, "Os egípcios escondem as virtudes que possuem e acusam-se sem cessar de faltas que eles não tem, enquanto que os sírios e gregos fingem ter virtudes que não possuem e escondem as faltas das quais são culpados."
Numa vila, dizia-se que havia um homem que jejuava tanto que era chamado de "o jejuador". Pai Zeno ouviu falar dele e mandou chamá-lo. Ele veio alegremente. Rezaram e se sentaram. O ancião começou a trabalhar em silêncio. Não conseguindo falar com Pai Zeno, o jejuador começou a se aborrecer. Então ele disse a Pai Zeno, "reze por mim, Pai, porque desejo ir." O ancião perguntou, "por que?" O outro retrucou, "porque meu coração está como se estivesse em fogo e eu não sei o que pode ser isso. Pois em verdade, quando eu estava na vila e jejuava até a noite, nada disso me acontecia." O velho homem lhe disse, "na vila você alimentava-se através de seus ouvidos. Mas vá embora e de agora em diante coma pela nona hora e o que quer que faças, faça-o em segredo." Tão logo ele começou a seguir o conselho, o jejuador achou difícil esperar até a nona hora. E aqueles que o conheceram diziam, "o jejuador está possuído pelo diabo." Então ele foi contar isso ao ancião que disse a ele, "este caminho está de acordo com Deus".
Um dia Pai Moses disse ao irmão Zacharias, "diga-me o que devo fazer?" A estas palavras o último jogou-se no chão aos pés do ancião e disse: "você está me perguntando, Pai?" O velho homem disse a ele "Creia-me, Zacharias, meu filho, eu vi o Espírito Santo descer sobre você e desde então sinto-me inclinado a lhe perguntar." Então Zacharias arrancou o gorro de sua cabeça, jogou-o ao chão e pisoteou-o, dizendo, "O homem que não se deixa tratar assim não pode se tornar um monge."
Pai Zeno disse, "se um homem deseja ser ouvido por Deus rapidamente, antes de rezar por qualquer coisa, mesmo por sua própria alma, quando se elevar e estender suas mãos em direção a Deus, deve rezar de todo coração por seus inimigos. Através dessa ação Deus atenderá qualquer coisa que ele pedir."
Pai Gerontius de Petra disse que muitos, tentados pelos prazeres do corpo, cometiam fornicação, não em seus corpos mas em seus espíritos e enquanto preservavam a virgindade do corpo, cometiam a prostituição em suas almas. "então, é bom, meus bem-amados, fazer o que está escrito e cada um guardar seu próprio coração com todo cuidado possível." (Prov. 4,23)
Um dia Pai Arsenius consultou um velho monge egípcio sobre seus próprios pensamentos. Alguém notou e disse a ele, "Abba Arsenius, como é que o senhor com uma educação tão aprimorada em Grego e Latim, pergunta a um camponês sobre seus pensamentos?" Ele replicou, "Realmente aprendi Grego e Latim, mas não sei nem ao menos o alfabeto desse camponês."
Pai Elias, o ministro, disse, "O que pode o pecado onde há penitência? E de que adianta o amor onde há orgulho?"
Pai Isaias disse a aqueles que começavam bem, colocando-se sob a direção dos santos Padres, "como a coloração roxa, a primeira tintura nunca se perde." E "do mesmo modo que galhos jovens são facilmente envergados para trás e curvados, também é com os iniciantes que vivem em submissão."
Pai Isaias também contou que houve uma ceia e os irmãos estavam comendo na igreja e falando uns com os outros, o padre de Pelusia os repreendeu com estas palavras, "Irmãos, aquietem-se. Pois vi um irmão comendo com vocês e bebendo tanto quanto vocês e sua oração subia até a presença de Deus como fogo."
Pai Isaias também disse, "quando Deus deseja apiedar-se de uma alma e ela se rebela, não suportando nada e fazendo sua própria vontade, Ele então permite que ela sofra o que não quer, de modo que volte a procurá-Lo novamente."
Pai Theodore disse: "se você é amigo de alguém que cai na tentação da fornicação, ofereça-lhe sua mão, se puder e tire-o disso. Mas se ele cair na heresia e você não puder persuadi-lo de sair dela, saia de sua companhia rapidamente, para evitar que no caso de você demorar, você também seja jogado nesse poço.
Um irmão veio procurar Pai Theodore e começou a conversar com ele sobre coisas que nunca tinha posto em prática. Então o ancião lhe disse, "você ainda não encontrou um navio nem colocou sua carga a bordo e antes mesmo de ter navegado, já regressou à cidade. Faça seu trabalho primeiro, depois atinja a velocidade que você está fazendo agora."
Pai Theodore de Pherme disse: "o homem que permanece de pé quando se arrepende, não guardou o mandamento."
Um irmão disse a Pai Theodore, "desejo cumprir os mandamentos." O velho homem contou-lhe o que Pai Theonas lhe tinha dito: "eu quero encher meu espírito de Deus." Pegando farinha da padaria fez pães que deu aos pobres que lhe pediram; outros lhe pediram mais e ele lhes deu as cestas, em seguida o manto que usava e então, retornou à sua cela com seu dorso cingido por uma capa. Depois ele voltou ao trabalho dizendo a si mesmo, que ainda não tinha cumprido o mandamento de Deus."
O verdadeiro Pai Theophilo, o arcebispo, veio um dia a Scete. Os irmãos que estavam reunidos disseram a Pai Pambo, "fale algo ao arcebispo, de modo que ele fique edificado." O ancião disse a eles, "se ele não estiver edificado pelo meu silêncio, não ficará edificado pela minha fala."
Foi dito de Pai Thedore, que ele foi feito diácono de Scete e recusou exercer o cargo, tendo fugido para muitos lugares por isso. A cada vez, os anciãos o traziam de volta, dizendo, "não deixe seu diaconato." Pai Theodore disse-lhes, "deixem-me rezar a Deus de modo que Ele me diga, com certeza, se eu devo tomar parte na liturgia." Então rezou a Deus desse modo, "se é Tua vontade que eu aceite essa posição, dá-me a certeza disso." Então lhe apareceu uma coluna de fogo, que ia da terra ao céu e uma voz lhe disse, "se você puder se tornar como essa coluna, então seja um diácono." Ao ouvir isso ele decidiu nunca aceitar o encargo. Quando voltou à igreja os irmãos se inclinaram diante dele, dizendo, "se você não quer ser um diácono, pelo menos segure o cálice." Mas ele recusou, dizendo, "se vocês não me deixarem sozinho, deixarei este lugar." Então o deixaram em paz.
Pai Theodore de Scetis disse, "um pensamento me perturba não me deixa livre; embora não seja capaz de levar-me a agir, ele simplesmente me impede de progredir na virtude; mas um homem vigilante o lançaria fora e se levantaria para rezar."
Pai Theodore dizia, "a privação de alimento mortifica o corpo do monge." Pai Anotherold disse, "as vigílias mortificam ainda mais."
Mãe Teodora disse, "vamos nos esforçar para entrar pela porta estreita. Como as árvores que não enfrentaram as tempestades de inverno e não produzem fruto, assim é conosco; esta vida presente é uma tempestade e é através de muitas tribulações e tentações, que podemos obter a herança no reino dos céus."
A mesma Mãe disse que um mestre deveria ser um estranho ao desejo dominação, vanglória e orgulho; ninguém deveria se capaz de enganá-lo pela adulação, nem cegá-lo com presentes, nem conquistá-lo pelo estômago, nem dominá-lo pelo ódio; mas ele deveria ser paciente, gentil e humilde tanto quanto possível; ele deveria ser testado e sem partidarismo, imbuído de responsabilidade e amor pelas almas.
Ela também disse que nenhuma forma de ascetismo, nem vigílias, nem qualquer tipo de sofrimento são capazes de salvar, mas apenas a verdadeira humildade o pode fazer. Havia um anacoreta que tinha o poder de expulsar demônios; e ele lhes perguntou, "o que os faz irem embora?" "é o jejum?" Eles replicaram, "não comemos nem bebemos." "São as vigílias?" Eles responderam, "nunca dormimos." "É a separação do mundo?" "Vivemos nos desertos." "Qual poder os expulsa então?" Eles disseram, "Nada nos pode vencer, além da humildade." "Vocês vêem como a humildade é vitoriosa sobre os demônios?"
Foi dito de Pai John, o Anão que ele se retirou para viver no deserto de Scete com um ancião de Tebas. Seu Pai, pegando um pedaço seco de madeira plantou-o e disse a ele, "molhe-o todos os dias com uma garrafa de água, até que dê fruto." A água ficava muito distante e ele tinha que sair à noite e retornar pela manhã seguinte. Ao final de três anos a madeira reviveu e deu fruto. Então o ancião pegou alguns frutos e levou-os à igreja, dizendo aos irmãos, "peguem e comam o fruto da obediência."
Dizia-se de Pai John, o Anão, que um dia ele disse ao seu irmão mais velho, "gostaria de ser livre de todos os cuidados, como os anjos, que não trabalham, mas prestam culto a Deus incessantemente." Então, ele retirou seu manto e foi para o deserto. Depois de uma semana ele voltou ao seu irmão. Quando bateu à porta ouviu seu irmão dizer, antes de abrir, "quem é você?" Ele disse, "sou John, seu irmão." Ao que o outro retrucou, "John se tornou um anjo e dessa maneira não mais se encontra entre os homens." O outro pediu para entrar, dizendo, "Sou eu." Contudo, seu irmão não o deixou entrar, mas o deixou lá fora, aflito, até de manhã. Então, abrindo a porta, disse-lhe, "você é um homem e deve novamente trabalhar para poder comer." Então John se prostrou diante dele, dizendo, "perdoe-me."
Um dia, quando ele estava sentado em frente à igreja, os irmãos foram consultá-lo sobre seus pensamentos. Um dos anciãos viu e tornando-se presa do ciúme disse a ele, "John, seu vaso está cheio de veneno." Pai John respondeu-lhe, "Isto é bem verdade, Pai; e você disse isso vendo apenas o lado de fora, mas se fosse capaz de ver o interior também, o que diria, então?"
Alguns irmãos vieram um dia para testá-lo, para ver se ele deixaria seus pensamentos se dissiparem e falasse das coisas desse mundo. Disseram-lhe então, "damos graças a Deus, pois este ano tem chovido muito e as palmeiras puderam beber e suas folhas cresceram e os irmãos encontraram trabalho manual." Pai John disse-lhes, "Então, é quando o Espírito Santo desce aos corações dos homens, eles se renovam e produzem folhas por temor a Deus."
Era dito de Pai John, o Anão, que um dia ele estava tecendo corda para duas cestas, mas sem perceber, ele fez apenas uma, até que chegasse ao teto, pois seu espírito estava absorto em contemplação.
Pai John disse, "sou como um homem sentado debaixo de uma grande árvore, que vê bestas selvagens e serpentes, vindo contra ele em grande número. Quando não pode mais, ele corre e sobe na árvore e se salva. É a mesma coisa comigo; sento-me em minha cela e estou consciente de pensamentos maus vindo contra mim e quando não tenho mais forças contra eles, busco refúgio em Deus pela oração e sou salvo do inimigo."
Pai Poemen disse de Pai John, o Anão, que ele tinha rezado a Deus para que retirasse para longe dele as paixões, de modo que ele ficasse livre de preocupações. Então ele foi contar ao ancião isto; "encontro-me em paz, sem nenhum inimigo". O ancião lhe disse, "vá, implore a Deus que lhe envie as lutas de modo que você recupere a aflição e humildade que você possuía, pois é pela luta que as almas progridem." Então, ele implorou a Deus e quando as batalhas vieram ele não mais rezou que elas fossem afastadas, mas disse, "Senhor, dai-me força para a luta."
Pai John disse, "pusemos a carga leve de um lado, que é a auto-acusação, e nos carregamos com um grande peso que é a auto-justificação."
Ele também disse, "humildade e temor de Deus estão acima de todas as virtudes."
Pai John deu este conselho, "vigiar significa sentar-se na cela e estar sempre presente a Deus. Isto é o que significa o dizer, "eu vigiava e Deus veio até mim."
Um dos Padres disse dele, "quem é esse John, que pela sua humildade tem toda cidade de Scete pendurada no seu dedo mínimo?"
Pai John, o Anão, disse, "havia um homem muito espiritual que vivia uma vida reclusa. Ele era muito considerado na cidade e gozava de grande reputação. Disseram-lhe que um ancião, à beira da morte o chamava para abraçá-lo antes de adormecer. Ele pensou consigo, se eu for com a luz do dia, homens acorrerão atrás de mim, dando-me grande honra e não ficarei em paz com tudo isso. Então, irei à noite, na escuridão e passarei despercebido. Mas vejam só, dois anjos foram enviados por Deus com luzeiros para dar-lhe luz. Então a cidade inteira veio para fora para ver sua glória. Quanto mais ele desejava correr da glória, mais glorificado ele era. Nisso se cumpriu o que está escrito: "aquele que se humilha será exaltado." (Lc 14,11)
Pai John, o Anão, disse, "uma casa não é construída do topo para baixo. Deve-se começar com a fundação para alcançar o topo. Eles lhe disseram, "o que isso significa?" Ele respondeu, "a fundação é nosso próximo, a quem devemos ganhar, e este é o lugar para começar. Pois todos os mandamentos de Cristo dependem desse um."
Pai Poemen disse que Pai John teria dito que os santos são como um grupo de árvores, cada uma produzindo um fruto diferente, mas irrigadas com a mesma fonte. As práticas de um santo diferem das do outro, mas é o mesmo Espírito que trabalha em todos eles.
Pai John disse ao seu irmão, "mesmo que sejamos completamente desprezados aos olhos dos homens, alegremo-nos, pois somos honrados aos olhos de Deus."
O ancião, (Pai John, o Anão), disse, "vocês sabem que o primeiro sopro do demônio sobre Jó, foi através de suas possessões; e aquele viu que não o pôde afligir nem o separar de Deus. Com o segundo sopro, ele tocou sua carne, mas também nisso, o bravo atleta não pecou por palavra alguma que viesse de sua boca. De fato, ele tinha dentro do seu coração aquilo que é de Deus e recorria àquela fonte incessantemente."
Um ancião veio à cela de Pai John e encontrou-o adormecido com um anjo por detrás dele, abanando-o. Vendo isto ele se retirou. Quando Pai John se levantou, ele disse ao seu discípulo, "veio alguém enquanto eu estava dormindo?" Ele retrucou, "sim, um ancião." Então, Pai John soube que esse ancião era seu igual e que ele tinha visto o anjo.
Pai Isidore disse, "quando eu era mais jovem e permanecia em minha cela eu não punha limites à oração; a noite era para mim tempo de oração tanto quanto o dia."
Pai Isidore foi um dia ver Pai Theophilus, arcebispo de Alexandria e quando retornou a Scetis, os irmãos perguntaram a ele, "o que há de novo na cidade?" Mas ele lhes disse, "verdadeiramente irmãos, não vi a face de ninguém, exceto a do arcebispo." Ouvindo isso ficaram muito ansiosos e disseram, "houve algum desastre lá então, Pai?" Ele disse, "Não, de modo algum, mas o pensamento de olhar para quem quer que fosse não me atraiu." A essas palavras eles se encheram de admiração e se fortaleceram em sua intenção de guardarem seus olhos de toda distração."
Pai Isidore de Pelusia disse, "prezem as virtudes e não sejam escravos da glória; pois as primeiras são imortais enquanto que as últimas logo se desvanecem."
Ele também disse, "as alturas da humildade são grandes e também as profundezas da vanglória; aconselho-os a atenderem à primeira e não caírem na segunda."
Pai Lot foi ver Pai Joseph e lhe disse, "Pai, tanto quanto posso, rezo um pouco meu Ofício, jejuo um pouco, rezo, medito, vivo em paz e tanto quanto posso, purifico meus pensamentos. Que mais posso fazer?'" O ancião levantou-se, estendeu suas mãos em direção ao céu. Seus dedos eram como dez lâmpadas de fogo e então disse-lhe, "por que não tornar-se o próprio fogo, então?
Pai James disse, "tal como uma lâmpada ilumina um quarto escuro, o temor de Deus quando penetra o coração de um homem, o ilumina, ensinando-lhe todas as virtudes e mandamentos de Deus."
E acrescentou: "não precisamos apenas de palavras, pois no momento presente existem muitas palavras entre os homens, mas precisamos de atos, pois isto é o necessário e não apenas palavras que não produzem fruto."
Pai John das Celas nos contou esta estória: "havia no Egito uma bela cortesã, muito rica , a quem muitos nobres e poderosos acorriam. Um dia, estando ela perto de uma igreja desejou entrar. O subdiácono, que estava às portas não o permitiu, dizendo, "você não é digna de entrar na casa de Deus, pois está impura." O bispo, ouvindo o barulho de sua discussão veio para fora. Então a cortesã lhe disse, "ele não me deixa entrar na igreja." E o bispo também disse a ela, "você não pode entrar pois você não está pura." Ela ficou tomada de arrependimento e disse a ele, "então, não mais cometerei fornicação." O bispo respondeu-lhe, "se você trouxer suas riquezas aqui, acreditarei que você não mais cometerá fornicação." Ela trouxe toda sua fortuna e o bispo ateando fogo, queimou-a completamente. Então ela entrou na igreja, chorando e dizendo, "se isto aconteceu comigo aqui embaixo, o que sofreria depois, lá em cima?" Então se converteu e se tornou um vaso de eleição.
Pai Isidore, o sacerdote, disse "se você jejua regularmente, não se encha de orgulho, mas se você se vangloria por causa disso, então é melhor que coma carne. É melhor para um homem comer carne do que se inflar com orgulho e gloriar-se de si mesmo.
Conta-se de Pai John, o persa, que quando alguns malfeitores vieram a ele, ele pegou uma bacia e desejou lavar-lhes os pés. Mas eles se encheram de confusão e começaram a fazer penitência.
Da Palestina, Pai Hilarion foi à montanha onde estava Pai Anthony. Pai Antony disse-lhe, "você é bem-vindo, tocha que acorda o dia." Pai Hilarion retrucou, "paz a você, pilar da luz, dando luz ao mundo."
Os santos Padres estavam fazendo previsões sobre as últimas gerações. Eles disseram. "O que fizemos?" Um deles, o grande Pai Ischyrion, replicou, "nós cumprimos os mandamentos de Deus." Os outros replicaram, "e aqueles que vierem depois de nós, o que farão?" Ele disse, "eles lutarão para conseguir a metade do que conseguimos." Então disseram, "e aqueles que virão após estes, o que lhes sucederá?" Ele disse, "OS HOMENS DESSA GERAÇÃO NÃO REALIZARÃO NENHUMA OBRA E A TENTAÇÃO CAIRÁ SOBRE ELES; E AQUELES QUE FOREM ACHADOS DIGNOS, NAQUELE DIA, SERÃO MAIORES ATÉ MESMO DO QUE NÓS E NOSSOS PAIS."
Pai Copres disse, "abençoado aquele que sofre aflições com ação de graças."
Um dia, os habitantes de Scete reuniram-se para discutir Melquisedeck e se esqueceram de convidar Pai Copres. Mais tarde o chamaram e perguntaram-lhe sobre aquele assunto. Batendo em sua boca três vezes, ele disse, "infelizmente, para você, Copres! Pois aquilo que Deus manda, você faz, você foi posto de lado e você deseja aprender algo que não lhe foi requerido saber." Quando ouviram estas palavras, os irmãos fugiram para suas celas.
Perguntaram a Pai Cyrus da Alexandria, sobre a tentação da fornicação e ele replicou, "se vocês não pensarem sobre isso, vocês não têm esperança, pois se vocês não estiverem pensando nisso, estão fazendo isso. Quer dizer, aquele que não luta contra o pecado e resiste a ele em seu espírito vai pecar fisicamente. É bem verdade que aquele que está fornicando não está preocupado pensando nisso.
Alguns dos monges que são chamados Euchites, foram a Enaton para ver Pai Lucius. O ancião perguntou-lhes, "qual é o seu trabalho manual?" Replicaram, "não fazemos trabalho manual, pois como o Apóstolo diz, "rezamos incessantemente". O ancião perguntou-lhes se eles comiam e eles responderam que sim. Então ele lhes disse, "quando vocês estão comendo, quem reza então no seu lugar?" Então perguntou-lhes se eles não dormiam e responderam-lhe que sim. E ele lhes falou, "quando vocês dormem quem reza no seu lugar?" Eles não conseguiram encontrar nenhuma resposta para dar-lhe. Ele lhes disse, "perdoem-me mas vocês não agem como falam. Vou lhes mostrar como, enquanto faço meu trabalho manual rezo sem interrupção. Sento-me com Deus, pondo meu junco de molho e trançando minhas cordas e digo, "Deus, tenha compaixão de mim, de acordo com vossa grande bondade e de acordo com vossa infinita misericórdia, livra-me de meus pecados." Então lhes perguntou se isto não era oração e disseram que sim. Então lhes falou, "Então, quando devo passar o dia todo trabalhando e rezando, ganhando treze moedas de dinheiro, mais ou menos, coloco duas moedas fora da porta e pago minha comida com o resto do dinheiro. Aquele que pega as duas moedas reza para mim quando estou comendo e quando estou dormindo; então, pela graça de Deus, eu cumpro o preceito de orar sem cessar."
Contaram que Pai Macarius, o grande, como está escrito, tornou-se um deus sobre a face da terra, pois, assim como Deus protege o mundo, assim também Pai Macarius cobria as faltas que ele via, como se não as visse; e aquelas que ouvia, como se não as ouvisse.
O anjo quando deu as regras do monasticismo a São Pacômio, disse-lhe: "... Ele declarou que no curso do dia, eles devem fazer doze orações , e ao acender as lâmpadas, doze, e nas vigílias noturnas, doze, e pela nona hora, três. Quando forem comer, ele decretou que um salmo seja cantado antes de cada prece." E Pacômio objetou ao anjo que as orações eram muito poucas...
O mesmo Pai Macarius, quando no Egito, descobriu um homem que possuía uma besta de carga ocupada em saquear as provisões de Macarius. Então ele foi ao ladrão como se fosse um estrangeiro e o ajudou a carregar o animal. Despediu-o com grande paz na alma, dizendo, "não trouxemos nada para este mundo, e não podemos levar nada para fora dele." (1Tim, 6,7). "O Senhor deu e o Senhor tirou; louvado seja o nome do Senhor." (Job, 1,21)
Perguntaram a Pai Macarius, "como devemos rezar?" O ancião disse "não é necessário fazer grandes discursos; é suficiente erguer as mãos e dizer, "Senhor, como desejas e como conheces, tenha piedade." E se o conflito crescer, digam, "Senhor, ajuda!" Ele sabe muito bem o que precisamos e Ele nos mostra sua misericórdia."
Um irmão foi ao Pai Matoes e lhe disse, "como se explica que os monges de Scete fazem mais do que as Escrituras pedem, amando seus inimigos mais do que a si mesmos?" Pai Matoes respondeu-lhes, "Eu por mim, ainda não consegui amar aqueles que me amam, como eu me amo a mim mesmo."
Dizia-se de Pai Silvanus que em Scetis ele tinha um discípulo chamado Mark, cuja obediência era grande. Ele era um escriba. O ancião o amava por causa de sua obediência. Ele tinha outros onze discípulos que ficaram magoados porque ele o amava mais que a eles. Quando ficaram sabendo disso, os mais velhos ficaram sentidos e um dia vieram reprovar-lhe sobre isso. Tomando-os consigo, ele foi bater em cada cela, dizendo, "irmão fulano, venha aqui; preciso de você", mas nenhum deles veio imediatamente. Chegando à cela de Mark, ele bateu e disse, "Mark." Ouvindo a voz do ancião, ele pulou imediatamente e o ancião o mandou ir servir e então disse, "Pai, onde estão os outros irmãos?" Então eles foram à cela de Mark e pegaram seu livro e notaram que ele tinha começado a escrever a letra "Omega" ("w") mas quando ele ouviu o ancião, ele não terminou de escrever. Então os anciãos disseram, "verdadeiramente, Pai, aquele que você ama, nós amamos também e Deus também o ama."
Pai Poemen disse de Pai Nesterius que ele era como a serpente de bronze que Moisés fez para curar o povo; ele possuía toda virtude e sem falar, curava a todos.
Pai Xanthias disse, "o ladrão estava na cruz e ele foi justificado por uma simples palavra; e Judas que era contado no número dos apóstolos perdeu todo seu labor em apenas uma noite e desceu do céu para o inferno. Então, que ninguém se gabe por seus atos bons, pois todos aqueles que confiam em si mesmos, caem."
Pai Poemen disse, "o início do mal é não ouvir."
Syncletica, Mãe do Deserto, disse: "No começo, há luta e muito trabalho para os que se aproximam de Deus. Mas, depois disso, há uma indescritível alegria. É como acender uma fogueira: no início há muita fumaça e seus olhos lacrimejam, mas depois você consegue o resultado desejado. Assim devemos acender o fogo divino em nós mesmos, com lágrimas e esforço."
Da mesma Mãe: "Há muitos que vivem nas montanhas e se comportam como se estivessem na cidade; e eles estão perdendo seu tempo. É possível ser solitário em sua própria mente, mesmo no meio de uma multidão e é possível para um solitário viver na multidão de seus próprios pensamentos."
Fonte:
Material encontrado na Internet

Mysterium Fidei




CARTA ENCÍCLICA MYSTERIUM FIDEI DE SUA SANTIDADE O PAPA PAULO VI SOBRE O CULTO DA SAGRADA EUCARISTIA
Veneráveis Irmãos
Introdução

1.Sempre a Igreja Católica conservou religiosamente, como tesouro preciosíssimo, o mistério inefável da fé que é o dom da Eucaristia, recebido do seu Esposo, Cristo, como penhor de amor imenso; a ele tributou, no Concílio Ecumênico Vaticano II, nova e soleníssima profissão de fé e de culto.

2. Na verdade, tratando da restauração da Sagrada Liturgia, os Padres do Concílio, pensando no bem da Igreja universal, tiveram sobretudo a peito exortar os féis a participarem ativamente, com fé íntegra e com a maior piedade, na celebração deste sacrossanto Mistério, oferecendo-o a Deus como sacrifício, juntamente com o sacerdote, pela salvação própria e de todo o mundo, recorrendo a ele para encontrarem o alimento da alma.

3. Porque, se a Sagrada Liturgia ocupa o primeiro lugar na vida da Igreja, o Mistério Eucarístico é, podemos dizer, o coração e o centro da Sagrada Liturgia, constituindo a fonte de vida que nos purifica e robustece, de modo que já não vivamos para nós mas para Deus, e nos unamos uns com os outros pelo vínculo mais íntimo da caridade.


4. E para que ficasse bem claro o nexo indissolúvel entre a fé e a piedade, os Padres do Concílio, confirmando a doutrina sempre defendida e ensinada pela Igreja e definida solenemente pelo Concílio de Trento, julgaram dever iniciar a matéria do Sacrossanto Mistério Eucarístico por esta síntese de verdades: "O nosso Salvador, na última Ceia, na noite em que foi traído, instituiu o Sacrifício Eucarístico do seu Corpo e do seu Sangue, para perpetuar o Sacrifício da Cruz pelos séculos afora, até à sua vinda, deixando deste modo à Igreja, sua dileta Esposa, o memorial da sua morte e ressurreição: sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade, banquete pascal, em que se recebe Cristo, se enche a alma de graça e é dado o penhor da glória futura".(1)

5. Com estas palavras exaltam-se ao mesmo tempo não só o Sacrifício, que pertence à essência da Missa, que todos os dias é celebrada, mas também o sacramento, no qual os fiéis comem, pela sagrada comunhão, a carne de Cristo e bebem o seu Sangue, recebendo assim a graça, antecipação da vida eterna e "remédio da imortalidade", segundo as palavras do Senhor: "Quem come a minha carne e bebe o meu sangue, tem a vida eterna e eu ressuscitá-lo-ei no último dia".(2)

6. Da restauração da Sagrada Liturgia; esperamos firmemente que hão de brotar frutos copiosos de piedade eucarística, para que a Igreja santa, elevando este sinal de salvação e piedade, cada dia mais se aproxime da unidade perfeita (3) e convide para a unidade da fé e caridade todos quantos se gloriam do nome de cristãos, atraindoos suavemente sob o impulso da graça divina.

7. Estes frutos parece-nos entrevê-los e quase contemplar-lhes as primícias, tanto na alegria exuberante e na prontidão de ânimo, que os alhos da Igreja Católica manifestaram ao receber a Constituição que restaurou a sagrada Liturgia, como também em muitas e notáveis publicações, destinadas a investigar melhor e a tornar mais frutuosa a doutrina da sagrada Eucaristia, essecialmente no tocante à sua relação com o mistério da Igreja.

8. Tudo isso é motivo, para nós, de não pequena consolação e alegria. Com muito gosto vo-las queremos comunicar a vós, Veneráveis Irmãos, para que, juntamente conosco, agradeçais a Deus, doador de todo o bem, que com o seu Espírito governa a Igreja e a fecunda com novos graus de virtude.

Motivos de solicitude pastoral e de ansiedade

9. Não faltam, todavia, Veneráveis Irmãos, precisamente na matéria de que estamos falando, motivos de grave solicitude pastoral e de ansiedade. A consciência do nosso dever apostólico não nos permite passá-los em silêncio.


10. Bem sabemos que, entre os que falam e escrevem sobre este Sacrossanto Mistério, alguns há que, a respeito das missas privadas, do dogma da transubstanciação e do culto eucarístico, divulgam opiniões que perturbam o espírito dos féis, provocando notável confusão quanto às verdades da fé, como se fosse lícito, a quem quer que seja, passar em silêncio a doutrina já definida da Igreja ou interpretá-la de tal maneira, que percam o seu valor o significado genuíno das palavras ou o alcance dos conceitos.


11. Não é lícito, só para aduzirmos um exemplo, exaltar a Missa chamada "comunitária", a ponto de se tirar a sua importância à Missa privada; nem insistir tanto sobre o conceito de sinal sacramental, como se o simbolismo que todos, é claro, admitimos na Sagrada Eucaristia, exprimisse, única e simplesmente, o modo da presença de Cristo neste sacramento; ou ainda discutir sobre o mistério da Transubstanciação sem mencionar a admirável conversão de toda a substância do pão no corpo e de toda a substância do vinho no sangue de Cristo, conversão de que fala o Concílio Tridentino; limitam-se apenas à transignificação e transfinalização, conforme se exprimem. Nem é lícito, por fim, propor e generalizar a opinião que afirma não estar presente Nosso Senhor Jesus Cristo nas hóstias consagradas que sobram, depois da celebração do Sacrifício da Missa.

12. Quem nâo vê que, em tais opiniões ou noutras semelhantes postas a correr, sofrem não pouco a fé e o culto da divina Eucaristia?






33. Os sacerdotes, que são mais que ninguém a nossa alegria e a nossa coroa no Senhor, lembram-se do poder que receberam do Bispo ordenante para oferecer a Deus o Sacrifício e celebrar Missas tanto pelos vivos como pelos defuntos no nome do Senhor.(29) Recomendamos-lhes com paternal insistência que celebrem todos os dias com dignidade e devoção, a fim de que, eles mesmos e os outros cristãos em geral, beneficiem da aplicação dos frutos copiosos que provêm do Sacrifício da Cruz. Deste modo, contribuirão muito para a salvação do gênero humano.

No sacrifício da missa Cristo torna-se presente sacramentalmente


34. O pouco, que a propósito do Sacrifício da Missa expusemos, leva-nos a dizer também alguma coisa do Sacramento da Eucaristia. Um e outro, Sacrifício e Sacramento, fazem parte do mesmo Mistério, tanto que não é possível separar um do outro. O Senhor imola-se de modo incruento no Sacrifício da Missa, que representa o Sacrifício da Cruz e lhe aplica a eficácia salutar, no momento em que, pelas palavras da consagração, começa a estar sacramentalmente presente, como alimento espiritual dos féis, sob as espécies de pão e de vinho.



35. Bem sabemos todos que vários são os modos da presença de Cristo na sua Igreja. Esta verdade muito consoladora, que a Constituição da Sagrada Liturgia expôs brevemente,(30) é útil que a lembremos com mais demora. Cristo está presente à sua Igreja enquanto esta ora, sendo Ele quem "roga por nós, roga em nós e por nós é rogado; roga por nós como nosso Sacerdote; roga em nós como nossa Cabeça; é rogado por nós como nosso Deus".(31) Ele mesmo prometeu: "Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles".(32) Ele está presente à sua Igreja enquanto ela pratica as obras de misericórdia; isto não só porque, quando nós fazemos algum bem a um dos seus irmãos mais humildes, o fazemos ao mesmo Cristo, (33) mas também porque Cristo é quem faz estas obras por meio da sua Igreja, não deixando nunca de socorrer os homens com a sua divina caridade. Está presente à sua Igreja enquanto esta peregrina e anseia por chegar ao porto da vida eterna: habita nos nossos corações por meio da fé,(34) e neles difunde a caridade por meio da ação do Espírito Santo, que nos dá.(35)


36. De outro modo, também verdadeiríssimo, Cristo está presente à sua Igreja enquanto ela prega, sendo o Evangelho, assim anunciado, Palavra de Deus, que é anunciada em nome de Cristo, Verbo de Deus Encarnado, e com a sua autoridade e assistência, para que haja "um só rebanho, cuja segurança virá de ser um só o pastor".(36)


37. Está presente à sua Igreja, enquanto esta dirige e governa o povo de Deus, porque de Cristo deriva o poder sagrado, e Cristo, "Pastor dos Pastores", assiste os Pastores que o exercem,(37) segundo a promessa feita aos Apóstolos: "Eu estarei convosco todos os dias, até a consumação dos séculos".(38)


38. Além disso, de modo ainda mais sublime, está Cristo presente à sua Igreja enquanto esta, em seu nome, celebra o Sacrifício da Missa e administra os Sacramentos. Quanto à presença de Cristo na oferta do Sacrifício da Missa, apraz-nos recordar o que São João Crisóstomo, cheio de admiração, diz com verdade e eloqüência: "Quero acrescentar uma coisa verdadeiramente estupenda, mas não vos espanteis nem vos perturbeis. Que coisa é? A oblação é a mesma, seja quem for o oferente, chame-se ele Pedro ou Paulo; é a mesma que Jesus Cristo confiou aos discípulos e agora realizam os sacerdotes: esta última não é menor que a primeira, porque não são os homens que a tornam santa, mas Aquele que a santificou. Como as palavras pronunciadas por Deus são exatamente as mesmas que agora diz o sacerdote, assim a oblação é também a mesma".(39)


39. E ninguém ignora serem os Sacramentos ações de Cristo, que os administra por meio dos homens. Por isso, são santos por si mesmos e, quando tocam nos corpos, infundem, por virtude de Cristo, a graça nas almas. 40. Estas várias maneiras de presença enchem o espírito de assombro e levam-nos a contemplar o Mistério da Igreja. Outra é, contudo, e verdadeiramente sublime, a presença de Cristo na sua Igreja pelo Sacramento da Eucaristia. Por causa dela, é este Sacramento, comparado com os outros, "mais suave para a devoção, mais belo para a inteligência, mais santo pelo que encerra";(40) contém, de fato, o próprio Cristo e é "como que a perfeição da vida espiritual e o fim de todos os Sacramentos".(41)


41. Esta presença chama-se "real", não por exclusão como se as outras não fossem "reais", mas por antonomásia porque é substancial, quer dizer, por ela está presente, de fato, Cristo completo, Deus e homem.(42) Erro seria, portanto, explicar esta maneira de presença imaginando uma natureza "pneumática", como lhe chamam, do corpo de Cristo, natureza esta que estaria presente em toda a parte; ou reduzindo a presença a puro simbolismo, como se tão augusto Sacramento consistisse apenas num sinal eficaz "da presença espiritual de Cristo e da sua íntima união com os féis, membros do Corpo Místico".(43)


42. E certo que do simbolismo eucarístico, especialmente em relação com a unidade da Igreja, muito trataram os Padres e os Doutores Escolásticos, cuja doutrina resumiu o Concílio de Trento, ensinando que o nosso Salvador deixou a Eucaristia à sua Igreja "como símbolo... da unidade desta e da caridade que Ele quis unisse intimamente todos os cristãos uns com os outros", "mais ainda, como símbolo daquele corpo único, de que Ele é a Cabeça".(44)



43. Logo nos primórdios da literatura cristã, assim escrevia o autor desconhecido da "Didaquê ou Doutrina dos doze Apóstolos": "Quanto à Eucaristia, dai graças deste modo: ...como este pão, agora partido, estava antes disperso pelos montes, mas, ao ser reunido, se tornou um só, do mesmo modo se reúna a tua Igreja, dos confins da terra, no teu reino".(45)


44. Escreve igualmente São Cipriano, ao defender a unidade da Igreja contra o cisma: "Por fim, os mesmos Sacrifícios do Senhor põem em evidência a unanimidade dos cristãos, cimentada em caridade firme e indivisível. Pois, quando o Senhor chama seu Corpo ao pão, composto de muitos grãos juntos, indica o nosso povo reunido, por Ele sustentado; e quando chama seu Sangue ao vinho, espremido de muitos cachos e bagos, reduzidos à unidade, indica de maneira semelhante o nosso rebanho, composto de uma multidão reduzida à unidade".(46)


45. Antes que ninguém, já o dissera oApóstolo São Paulo, dirigindo-se aos coríntios: "Nós, embora muitos, somos um só corpo, visto que todos participamos desse único pão".(47)


46. O simbolismo eucarístico, se nos faz compreender bem o efeito próprio do Sacramento, que é a unidade do Corpo Místico, não explica todavia nem exprime a natureza que distingue este Sacramento dos outros. A instrução dada constantemente pela Igreja aos catecúmenos, o sentido do povo cristão, a doutrina definida pelo Concílio Tridentino e as mesmas palavras que usou Cristo, ao instituir a sagrada Eucaristia, vão mais longe: obrigam-nos a professar "que a Eucaristia é a Carne do nosso Salvador Jesus Cristo, a qual sofreu pelos nossos pecados e foi ressuscitada pelo Pai na sua benignidade".(48) Às palavras do mártir Santo Inácio apraz-nos acrescentar as de Teodoro de Mopsuéstia, neste particular testemunha fiel da crença da Igreja: "O Senhor não disse: Isto é o símbolo do meu Corpo e isto é o símbolo do meu Sangue, mas, Isto é o meu Corpo e o meu Sangue, ensinando-nos a não considerar a natureza visível que os sentidos atingem, mas a (crer) que ela pela ação da graça se mudou em carne e sangue".(49)


47. 0 Concílio Tridentino, baseando-se nesta fé da Igreja, "afirma clara e simplesmente que, no augusto Sacramento da santa Eucaristia, depois da consagração do pão e do vinho, Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, está presente verdadeira, real e substancialmente, sob a aparência destas realidades sensíveis". Portanto, o nosso Salvador, está presente com a sua humanidade não só à direita do Pai, segundo o modo de existir natural, mas também no Sacramento da Eucaristia "segundo um modo de existir, que nós, com palavras mal conseguimos exprimir, mas com a inteligência iluminada pela fé podemos reconhecer como possível a Deus, e que devemos aceitar firmissimamente como real".(50)


Cristo Senhor está presente no Sacramento da Eucaristia pela transubstanciação


48. Todavia, para que ninguém entenda mal este modo de presença que supera as leis da natureza e constitui no seu gênero o maior dos milagres,(51) é necessário escutar com docilidade a voz da Igreja docente e orante. Esta voz, que repete continuamente a voz de Cristo, ensina-nos que neste Sacramento Cristo se torna presente pela conversão de toda a substância do pão no seu Corpo e de toda a substância do vinho no seu Sangue; conversão admirável e sem paralelo, que a Igreja Católica chama, com razão e propriedade, "transubstanciação".(52) Depois da transubstanciação as espécies do pão e do vinho tomam nova significação e nova finalidade, deixando de pertencer a um pão usual e a uma bebida usual, para se tornarem sinal de coisa sagrada e sinal de alimento espiritual; mas só adquirem nova significação e nova finalidade por conterem nova "realidade", a que chamamos com razão "ontológica". Com efeito, sob as ditas espécies já não há o que havia anteriormente, mas outra coisa completamente diversa: isto não só porque assim julga a fé da Igreja, mas porque é uma realidade objetiva, pois, convertida a substância ou natureza do pão e do vinho, no Corpo e no Sangue de Cristo, nada fica do pão e do vinho, além das espécies; debaixo destas, está Cristo completo, presente na sua "realidade" física, mesmo corporalmente, se bem que não do mesmo modo como os corpos se encontram presentes localmente.

49. Por isso, tanto recomendaram os Santos Padres que os fiéis, ao considerarem este augustíssimo Sacramento, não se fiassem nos sentidos, que testemunham as propriedades do pão e do vinho, mas sim nas palavras de Cristo, que têm poder de mudar, transformar e "transubstanciar" o pão e o vinho no seu Corpo e Sangue; na verdade, como repetem os mesmos Padres, a força que opera este prodígio é a própria força de Deus Onipotente, que no princípio do tempo criou do nada todo o universo.


50. Diz São Cirilo de Jerusalém, ao concluir o discurso acerca dos Mistérios da fé: "Assim instruído e acreditando com a maior certeza que aquilo que parece pão não é pão, apesar do sabor que tem, mas sim o Corpo de Cristo; e que o que parece vinho não é vinho, apesar de assim parecer ao gosto, mas sim o Sangue de Cristo... tu fortalece o teu coração, comendo aquele pão como coisa espiritual, e alegra a face da tua alma".(53)


51. Insiste São João Crisóstomo: "Quem faz que as coisas oferecidas se tornem o Corpo e o Sangue de Cristo não é o homem, é Cristo que foi crucificado por nós. Como representante, pronuncia o sacerdote as palavras rituais; a eficácia e a graça vêm de Deus. Diz 'isto é o meu Corpo:' esta palavra transforma as coisas oferecidas".(54)


52. E com o celebérrimo Bispo de Constantinopla está em perfeito acordo Cirilo, Bispo de Alexandria, ao escrever no comentário ao Evangelho de São Mateus: "(Cristo) afirmou de maneira categórica 'isto é o meu Corpo e isto é o meu Sangue' não vás tu julgar que as realidades visíveis são figura, mas fiques sabendo que Deus Onipotente transforma, de modo misterioso, algumas das coisas oferecidas, no Corpo e no Sangue de Cristo; quando destes participamos, recebemos a força vivificante e santificadora de Cristo".(55)


53. O Bispo de Milão, Santo Ambrósio, assim descreve a conversão eucarística: "Persuadamo-nos que já não temos o que a natureza formou, mas o que a bênção consagrou; e que a força da bênção é maior que a força da natureza, porque a bênção, muda até a natureza". E querendo confirmar a verdade do Mistério, exemplifica com muitos milagres contados na Sagrada Escritura, como Jesus que nasce da Virgem Maria, e depois, passando a falar da obra da criação, assim conclui: "A palavra de Cristo, que pode fazer do nada aquilo que não existia, não poderá mudar as coisas que existem naquilo que não eram? Criar coisas não é menos que mudá-las".(56)


54. Mas não é necessário multiplicar testemunhos. Mais útil será recordar a firmeza da fé que mostrou a Igreja, ao resistir muito unânime a Berengário. Levado pelas dificuldades que sugere a razão humana, foi ele quem primeiro se atreveu a negar a conversão eucarística; a Igreja condenou-o repetidamente, se não se retratasse. Gregório VII, nosso predecessor, obrigou-o a prestar um juramento nestes termos: "Creio de coração e confesso de palavra que o pão e o vinho, colocados sobre o altar, se convertem substancialmente, pelo mistério da oração sagrada e das palavras do nosso Redentor, na verdadeira, própria e vivificante Carne e no Sangue de nosso Senhor Jesus Cristo; e que, depois de consagrados, são o verdadeiro Corpo de Cristo, que nascido da Virgem e oferecido pela salvação do mundo, esteve suspendido na Cruz e agora está assentado à direita do Pai; como também o verdadeiro Sangue de Cristo, que saiu do seu peito. Não está Cristo somente como figura e virtude do Sacramento, mas também na propriedade da natureza e na realidade da substância".(57)


55. Com estas palavras concordam (admirável exemplo da firmeza da fé católica!) os Concílios Ecumênicos de Latrão, de Constança, de Florença e, por fim, de Trento, naquilo que constantemente ensinaram acerca do mistério da conversão eucarística, quer expusessem a doutrina da Igreja quer condenassem erros.


56. Depois do Concílio Tridentino, o nosso predecessor Pio VI, opondo-se aos erros do Sínodo de Pistóia, recomendou seriamente aos párocos, encarregados de ensinar, que não deixassem de falar da transubstanciação, que figura entre os artigos da fé.(58) Na mesma linha, o nosso predecessor Pio XII, de feliz memória, recordou quais são os limites que não devem ultrapassar aqueles que aprofundam o Mistério da transubstanciação.(59) E nós mesmos no recente Congresso Eucarístico Nacional italiano, realizado em Pisa, demos, em obediência ao nosso dever apostólico, testemunho público e solene da fé da Igreja.(60)


57. Esta mesma Igreja não só ensinou mas viveu a fé na presença do Corpo e do Sangue de Cristo na Eucaristia, adorando sempre tão grande Sacramento com culto latrêutico, que só a Deus compete. Deste culto escreve Santo Agostinho: "A mesma carne, com que andou (o Senhor) na terra, essa mesma nos deu a comer para nossa salvação; ninguém come aquela Carne sem primeiro a adorar...; não só não pecamos adorando-a, mas pecaríamos se a não adorássemos".(61)


O culto latrêutico devido ao Sacramento Eucarístico


58. Este culto latrêutico devido ao Sacramento Eucarístico, professou-o e professa-o a Igreja Católica, não só durante a Missa mas também fora dela, conservando com o maior cuidado as hóstias consagradas, expondo-as à solene veneração dos fiéis, e levando-as em procissão vitoriadas por grandes multidões.


59. Temos muitos testemunhos desta veneração nos antigos documentos eclesiásticos. Sempre os Pastores da Igreja exortaram os fiéis a conservar com o maior respeito a Eucaristia que levavam para casa. "O Corpo de Cristo é para se comer e não para se desprezar", lembrava judiciosamente Santo Hipólito.(62)


60. Os fiéis julgavam-se culpados e com razão, conforme lembra Orígenes, se, recebendo o Corpo do Senhor e conservando-o com a maior cautela e veneração, apesar disso deixavam cair algum fragmento.(63)


61. E que os Pastores reprovavam energicamente qualquer falta da reverência devida, mostra-o Novaciano (nisto digno de fé), o qual julga merecedor de condenação aquele que, "saindo da celebração dominical e levando ainda consigo a Eucaristia, como é costume..., fez dar voltas ao santo Corpo do Senhor", não se dirigindo logo para casa mas correndo aos espetáculos.(64)


62. Mais ainda, São Cirilo de Alexandria rejeita como loucura a opinião dos que afirmavam que, para nos santificarmos, nada serve a Eucaristia no caso de haver apenas algum resto conservado do dia anterior. Assim escreve: "Nem se altera Cristo, nem se muda o seu santo Corpo; perseveram sempre nele a força e o poder de bênção, e a graça constante que vivifica".(65)

63. Nem devemos esquecer que antigamente os fiéis, quer se encontrassem sujeitos à violência da perseguição, quer vivessem no ermo por amor da vida monástica, costumavam alimentar-se mesmo diariamente da Eucaristia, tomando a sagrada comunhão com as próprias mãos, no caso de faltar um sacerdote ou diácono.(66)


64. Isto não o dizemos para que se altere, seja no que for, o modo de conservar a Eucaristia ou de receber a sagrada comunhão, segundo foi estabelecido mais tarde pelas leis eclesiásticas ainda em vigor, mas somente para todos juntos nos alegrarmos por ser sempre a mesma a fé da Igreja.


65. Desta fé única nasceu a festa do Corpo de Deus, celebrada pela primeira vez na diocese de Liège, graças sobretudo aos esforços da Beata Juliana de Mont Cornillon, festa que o nosso predecessor Urbano IV estendeu a toda a Igreja; e nasceram igualmente muitas outras instituições de piedade eucarística, que por inspiração da graça divina multiplicaram-se sempre mais, e com as quais, quase à porfia, se empenha a Igreja Católica quer em honrar a Cristo, quer em lhe dar graças por dádiva tão extraordinária, quer em implorar a sua misericórdia.

Exortação para que se promova o culto eucarístico


66. A nossa fé ambiciona apenas manter fidelidade perfeita à palavra de Cristo e dos Apóstolos, rejeitando decididamente qualquer opinião errônea e perniciosa. Pedimo-vos, Veneráveis Irmãos, que, no povo confiado aos vossos cuidados e vigilância, a conserveis pura e íntegra e, sem quererdes poupar palavras e canseiras, promovais o culto eucarístico. Este deve ser, o ponto de convergência último, para todas as outras formas de piedade.


67. Consiga a vossa insistência que os féis conheçam cada vez melhor e experimentem em si mesmos o que diz Santo Agostinho: "Quem quer viver, tem onde viva e donde viva: aproxime-se, creia, incorpore-se na Igreja, para ser vivificado. Não renuncie à união com os outros membros, não seja membro podre a merecer ser cortado, não passe pela vergonha de ser membro aleijado: seja membro belo, perfeito e são; conserve-se ligado ao corpo, viva para Deus e de Deus; trabalhe agora na terra, para depois reinar no céu".(67)


68. Como é desejável, participem os fiéis ativamente, cada dia e em grande número, no Sacrifício da Missa, vindo alimentar-se da sagrada Comunhão, com intenção pura e santa, e dando graças a Cristo Senhor Nosso por tão grande dom. Recordem-se destas palavras: "O desejo de Jesus Cristo e da Igreja, de que todos os fiéis se aproximem quotidianamente da sagrada mesa, consiste sobretudo nisto: em que os féis, unindo-se a Deus pelo Sacramento, dele recebam força para dominar a concupiscência, lavar as culpas leves quotidianas, e prevenir as faltas graves a que está sujeita a fragilidade humana".(68) Durante o dia, não deixem de visitar o Santíssimo Sacramento, que se deve conservar nas igrejas no lugar mais digno, e com máxima honra, segundo as leis litúrgicas; cada visita é prova de gratidão, sinal de amor e dever de adoração a Cristo Senhor nosso, ali presente.


69. Quem não vê que a divina Eucaristia confere ao povo cristão dignidade incomparável? Cristo é verdadeiramente "Emmanuel", isto é, "o Deus conosco", não só durante a oferta do Sacrifício e realização do Sacramento, mas também depois, enquanto a Eucaristia se conserva em igrejas ou oratórios. Dia e noite, está no meio de nós, habita conosco, cheio de graça e de verdade: (69) morigera os costumes, alimenta as virtudes, consola os aflitos, fortifica os fracos; atrai à sua imitação quantos dele se abeiram, para que aprendam com o seu exemplo a ser mansos e humildes de coração, e a procurar não os seus interesses mas os de Deus. Todos os que dedicam particular devoção ao augusto Sacramento eucarístico e se esforçam por corresponder com prontidão e generosidade ao amor infinito de Cristo por nós, todos esses experimentam e se alegram de compreender quanto é útil e preciosa a vida oculta com Cristo em Deus(70) e quanto importa que o homem se demore a falar com Cristo. Nada há mais suave na terra, nada mais eficaz para nos conduzir pelos caminhos da santidade.


70. Bem sabeis também, Veneráveis Irmãos, que a Eucaristia se conserva nos templos e oratórios como centro espiritual de comunidades, ou religiosas ou paroquiais; mais ainda, como centro da Igreja universal e da humanidade inteira, porque, debaixo do véu das sagradas espécies, está Cristo, Cabeça invisível da Igreja, Redentor do mundo, Centro de todos os corações: "por quem tudo existe e por quem nós somos".(71)


71. Donde se segue que o culto eucarístico promove muito nas almas o amor "social",(72) que nos leva a antepor o bem comum ao bem particular, a fazer nossa a causa da comunidade, da paróquia e da Igreja universal, e a dilatarmos a caridade até abraçarmos o mundo inteiro; sabemos que em toda a parte há membros de Cristo.


72. Como, Veneráveis Irmãos, o Sacramento eucarístico é sinal e causa da comunidade do Corpo Místico, e produz nas pessoas mais fervorosas um espírito eclesial ativo, não deixeis nunca de persuadir os vossos fiéis a que, aproximando-se do Mistério eucarístico, aprendam a tomar como própria a causa da Igreja, a dirigir-se a Deus sem descanso, a oferecer-se a si mesmos ao Senhor, como sacrificio agradável, pela paz e unidade da Igreja; a fim de que todos os filhos da Igreja sejam uma só coisa e tenham um mesmo sentimento, nem haja entre eles divisões, mas sejam perfeitos num mesmo espírito e mentalidade, como manda o Apóstolo;(73) e também para que todos aqueles que não estão ainda perfeitamente unidos à Igreja Católica, mas, embora dela separados, se gloriam do nome de cristãos, cheguem quanto antes a gozar conosco, pela graça divina, aquela unidade de fé e de comunhão, que Jesus Cristo deseja constitua sinal distintivo dos seus discípulos.


73. O desejo de orar e de consagrar-se a Deus pela unidade da Igreja, devem sobretudo os religiosos e religiosas considerá-lo como muito próprio, dada a vocação particular que têm de adorar o Santíssimo Sacramento e formar-lhe coroa na terra, como pedem os votos que pronunciaram.


74. Todavia, os anelos da unidade de todos os cristãos, tudo quanto há de mais profundo e suave no coração da Igreja, queremos nós exprimi-los mais uma vez, usando as mesmas palavras do Concílio Tridentino na conclusão do Decreto sobre a Sagrada Eucaristia: "Por último, no seu afeto paternal, o Sagrado Sínodo adverte, exorta, pede e roga, 'pelas entranhas da misericórdia de nosso Deus',(74) que todos e cada um dos cristãos acabem já agora por se reunir e concordar neste 'sinal da unidade', neste 'vínculo da caridade', neste símbolo de concórdia; e que, lembrados da grande majestade e do tão alto amor de nosso Senhor Jesus Cristo, que deu a sua dileta alma como preço da nossa salvação e deu a 'sua carne como alimento',(75) creiam e venerem estes sagrados mistérios de seu Corpo e Sangue com tal constância e firmeza de fé, com tal devoção, piedade e culto, que possam receber freqüentemente aquele Pão supersubstancial.(76) Deveras seja para eles vida verdadeira da alma e saúde perene do espírito, tanto que, 'robustecidos pelo seu vigor',(77) possam da miserável peregrinação da terra passar à pátria celeste, onde sem nenhum véu venham a comer o mesmo 'Pão dos Anjos'(78) que presentemente comem oculto por sagrados véus".(79)

75. O nosso bondosíssimo Redentor, pouco antes da morte, pediu ao Pai que todos aqueles, que viessem a crer n'Ele, se tornassem uma só coisa, como Ele e o Pai são uma coisa só.(80) Oxalá que Ele se digne ouvir, quanto antes, este voto, que é também Nosso e da Igreja inteira, para que todos celebremos, com uma voz e uma fé únicas, o Mistério Eucarístico, e, tornados participantes do Corpo de Cristo, formemos um só corpo,(81) unido com os mesmos vínculos que Ele determinou.


76. E dirigimo-nos com paternal amor também aos que pertencem às Veneráveis Igrejas do Oriente, nas quais floreceram tantos e tão célebres Padres, cujos testemunhos, a respeito da Eucaristia, recordamos com tanto gosto na presente Carta. Enorme alegria nos invade, quando recordamos a vossa fé a respeito da Eucaristia, fé que não diverge da nossa, quando ouvimos as orações litúrgicas com que celebrais tão alto Mistério, quando admiramos o vosso culto eucarístico e lemos os vossos teólogos, ao expor e defender a doutrina a respeito deste augustíssimo Sacramento.


77. A Santíssima Virgem Maria, de quem Cristo Senhor Nosso tomou a Carne que neste Sacramento, sob as espécies do pão e do vinho, "está presente, se oferece e se recebe",(82) e todos os Santos e Santas de Deus, especialmente aqueles que sentiram devoção mais ardente para com a divina Eucaristia, intercedam junto do Pai das Misericórdias, para que a fé comum e o culto eucarístico produzam e façam prosperar a unidade perfeita de comunhão entre todos os cristãos. Temos impressas no Nosso espírito as palavras de Santo Inácio Mártir, ao prevenir os fiéis de Filadélfia contra o mal das divisões e dos cismas, cujo remédio está na Eucaristia: "Procurai, diz o Santo, ter uma só Eucaristia: porque uma só é a Carne de nosso Senhor Jesus Cristo, e um só é o cálice na unidade do seu Sangue, um o altar e um o Bispo...".(83)


78. Animado pela dulcíssima esperança de ver derivarem, do aumento do culto eucarístico, muitos bens para toda a Igreja e para todo o mundo, a vós, Veneráveis Irmãos, aos sacerdotes, aos religiosos, a todos aqueles que vos prestam colaboração, e a todos os fiéis confiados aos vossos cuidados, concedemos, com grande efusão de amor, a bênção apostólica, como penhor das graças celestiais.

Dado em Roma, junto de São Pedro, na festa de São Pio X, 3 de Setembro de 1965, ano terceiro do nosso pontificado.

PAULUS PP. VI