Muitas vezes, quando celebramos a Sagrada Eucaristia, temos bem presente a última Ceia do Senhor, o que está correto: esta Ceia foi a primeira de todas as celebrações eucarísticas. Mas a própria última Ceia de Jesus não se entende sem referência à sua Paixão; ao mesmo tempo, a Ceia foi o modo mais eloqüente com que Jesus expressou o sentido que Ele mesmo daria à morte, que iria sofrer no dia seguinte.
Na noite em que ia ser entregue, celebrando com os apóstolos a última Ceia, o Bom Jesus “tomou o pão, deu graças, partiu-o e lhes deu, dizendo: ‘Isto é o meu corpo, que é dado por vós’” (Lc 22,19). Também “pegou o cálice, deu graças, passou-o a eles, e todos beberam. E disse-lhes: “Este é o meu sangue da nova Aliança, que é derramado por muitos” (Mc 14, 23-24). Nos sinais do pão e do vinho, Jesus entregou seu Corpo e Sangue, isto é, sua vida, entregou-se a si mesmo, antecipando o sacrifício da Cruz. Sem a Cruz, a Ceia seria um anúncio sem realização, uma promessa sem cumprimento. Por outro lado, sem a Ceia, a Cruz correria o risco de não ser compreendida: quem poderia ver na execução de um condenado o Sacrifício da nova e eterna Aliança, se Aquele mesmo que foi morto não mostrasse como entendia a própria morte?“Ninguém me tira a vida, mas eu a dou por própria vontade” (Jo 10,18): mostrou-o na Ceia, antecipando a entrega que faria na cruz.
Nas Missas que celebramos, obedecendo a palavra do Senhor (“fazei isso em memória de mim”), também tomamos o pão e o cálice recordando a morte e a ressurreição de Jesus, e no pão e no vinho consagrados, é-nos oferecida, como foi aos apóstolos naquela Ceia, a própria vida de Jesus, Ele mesmo, oculto no sinal do sacramento.
Tudo isso é possível pela força do Espírito Santo. “Impelido pelo Espírito Eterno, Cristo ofereceu a si mesmo a Deus como vítima sem mancha” (Hb 9,14). Esse Espírito garante que o mistério da Cruz e da Ressurreição, antecipado na Ceia e recordado em nossas Missas, não seja uma mera lembrança psicológica, mas contenha Aquilo que simboliza. Justamente por ser Eterno, o Espírito Santo faz com que o Sacrifício de Cristo, o próprio Jesus morto e ressuscitado, esteja sempre presente em todo o tempo, nos sinais do pão e do vinho que consagramos. Mais ainda, Espírito Eterno faz com que os homens e mulheres de todos os tempos, recebendo a comunhão, participem da graça e da benção obtidas pela morte e ressurreição do Senhor.
Nos dois sinais sacramentais, pão e vinho, estão presentes o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Cristo, pelo que basta a comunhão em apenas um deles para se receber Jesus inteiro. Também, já no sinal do pão, partido e dado, e, mais ainda, na própria existência de dois sinais, Corpo e Sangue, é expressa a morte do Senhor. Mas é no sinal do vinho que o simbolismo da Paixão aparece de modo mais marcante. Do mesmo modo como o pão traz á memória a encarnação de Jesus (com razão a Santa Eucaristia é saudada no antigo hino: “Salve Corpo verdadeiro que da Virgem Mãe nascestes”), o vinho vermelho, “sangue da uva” (Dt 32,14), traz, quase que espontaneamente, a memória de sua Paixão, de seu Sangue derramado. O fato da piedade eucarística voltar-se, quase que exclusivamente, ao sinal do Pão consagrado (comunhão somente com o Pão consagrado, adoração somente da Hóstia consagrada), empobreceu a compreensão que o nosso povo tem da Santíssima Eucaristia, onde o sinal do vinho é tão essencial quanto o sinal do pão.
Meditamos sobre o Sangue sagrado que Ele derramou por nós, ao mesmo tempo que adoramos este Sangue Precioso no Sacramento do altar, queremos crescer na compreensão deste Santíssimo Sacramento e na gratidão pelo dom infinito que Ele fez de si mesmo por nós, no altar da cruz. Assim seja.
Artigo extraído do Devocionário ao Preciosíssimo Sangue de Jesus
dado a nós na Eucaristia
Queremos crescer
Queremos crescer
na compreensão
deste Santíssimo Sacramento
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